Falar é um expressão de poder
FALAR É UMA EXPRESSÃO DE PODER
Jocivaldo dos Anjos
Falar
é exprimir o que se sente, quando se pode. Logo, o uso da fala que se pretende
é a maior expressão de poder social. Às vezes os sentimentos são ocultados por
não poder falar e provoca às vezes seqüelas (principalmente na saúde). Assim,
se conclui que somente fala quem pode. Não é a toa que existe aquela máxima “manda quem pode e obedece quem tem juízo”.
Podemos inferir que quem tem juízo não tem poder. Pois, o ajuizado é somente um
obedecedor de quem pode. Tido como bom, coreto porque não coloca em xeque as relações
de poder que há no uso da fala. Alias
quem pode é quem determina o que é juízo e quem o tem. Poder e loucura andam lado
a lado, conforme Focault. Quem tem poder pode deixar que o poder o deixe “louco”
e quem não possui poder pode “enlouquecer” pela ausência do poder.
Aprendemos
socialmente que devemos calar a boca quando o outro está falando porque ao
falar o outro está expressando o seu poder de comando. No entanto, há muitos “outros” que podem – e interrompem- a
expressão de poder de alguns. Dos “alguns”
a quem é despossuído do poder. Quem não tem poder não interfere na fala alheia.
E, quem não tem poder às vezes nem fala. Come calado. Come quieto! Morre entalado
pelas palavras que não pôde falar. É educado para não falar e confunde às vezes
a necessidade com a qualidade. Às vezes fica-se calado por necessidade (falta
de condição) e não por qualidade desempenhada por tal sujeito. Não eu seja
adequado se falar as quatro cantos, mas quem tem menos poder é adestrado para
ouvir.
Outra
expressão de cunho social muito utilizada é a de que temos dois ouvidos e uma
boca. Isso para que ouçamos mais e falemos menos. Mas, se todos têm dois
ouvidos e uma boca o que determina que alguns façam mais uso da boca e outros
façam mais uso dos ouvidos? O poder.
Poder
e fala anda lado a lado. Quando alguém fala: meça suas palavras não está se
falando das palavras em si, mas do poder que o falante goza (ou não) para poder
falar tal assunto. Bourdieu e Labov afirmam que o falante vale na sociedade o
que valem suas palavras. Numa sociedade capitalista e marcada por extratos bem
demarcados – como é a sociedade brasileira- algumas categorias sociais falam
mais do que outra, por exemplo:
·
Homens falam mais do que mulheres
·
Moradores da cidade falam mais do que
moradores da zona rural;
·
Adultos falam mais que jovens, crianças e
idosos;
·
Brancos falam mais do que negros;
·
Heterossexuais falam mais que homossexuais;
·
Chefes falam mais do que os súditos;
·
E quem tem dinheiro fala mais do que quem não
tem;
Portanto,
não se fala o que se quer. Fala-se o que se pode. E quem pode fala o que se
quer. Pois, para expressar poder e mandar faz-se uso de um instrumento de comunicação:
a fala. Democratizar os espaços de poder é tarefa sine qua non para possibilitar os usos das falas. Sigamos!
Jocivaldo dos Anjos é
mestre em Gestão Pública
Pelo direito de participação, sigamos!
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