A COMUNICAÇÃO INFORMA, FORMA E TRANSFORMA, MAS TAMBÉM DEFORMA: EM TEMPOS DE REDES DIGITAIS SE CONDENA PARA, DEPOIS, PEDIR DESCULPAS, NO MÁXIMO

Jocivaldo dos Anjos

Fonte: ©Passive, 2013 by Joey Klarenbeek
A comunicação sempre foi utilizada para a disputa de poder. Desde os primórdios. Sempre serviu e foi exitosa em sua missão. Quando ela foi elevada à categoria de ciência passou a ter um arcabouço legislativo que apontava os caminhos a seguir, os locais de parar e os atalhos a não serem seguidos. Positivada em lei. Com o avanço da sociedade as formas de comunicação e também mudou, logicamente, e o formato de fazê-la avançou-se tanto que estamos no tempo de sua negação. Tanto do ponto de vista histórico (ontológico) quanto do ponto de vista legal.

A comunicação não é mais um veículo de informar o que ocorre na sociedade. É também, - mas, também sempre foi, - um veículo de negação da própria informação. A contrainformação é não saber o que ocorreu, inferir que aconteceu, divulgar que aconteceu e, para muita gente aquilo passa a ter acontecido, e, depois, se aquilo não aconteceu, os envolvidos já estão com seus nomes e histórias expostas e, dessa forma, não será mais possível negar a contrainformação para todo mundo. Somente, quiçá, para os mais próximos.
Uma vez sendo a internet a sua forma de se divulgar – e nestes tempos também de produzir- informações. Estas circulam pelas redes, entram nas vidas das pessoas pelos celulares, smartphones (que esperto mesmo é quem o criou) de forma muito rápida, e tem um poder de se reproduzir qual um vírus. Dada a primeira reprodução a outros mentira já passa a ser verdade para outros grupos de WhatsApp, que por sua vez também, se trata de outros grupos sociais. Como se um banho na mentira a transformasse em verdade. E muita gente ainda afirma: “é verdade sim. Acabei de ver no grupo de fulano (a) de tal”.

Está contra informação não se trata da mentira construída como verdade como disputa rebaixada da política, mas, se centra no imaginário ingênuo daquelas que por administrar um grupo de WhatsApp, fazer parte vários grupos, acessar algumas informações e, a partir disso, a “internauta” passa a acreditar que ela é uma comunicadora e dotada de informações importantes.  Uma pessoa com atribuições de “boa” comunicadora e está, ao seu modo, contribuindo para uma sociedade mais informada. Imagina. Ledo engano. Ledo engano para os desinformados ingênuos, mas muita gente ganha com isso. As gentes que operam na sociedade para uma mudança radical no pensamento de amor e altruísmo e constituição de uma outra forma de se ver a sociedade, positivados pela revolução francesa e passam a construir espaços recheados das piores heranças do século XX: o nazismo e o fascismo e a descrença homérica nas organizações.

Estamos num tempo – como os demais, mas, de maior abrangência – em que a informação forma. Forma um pensamento social em que as pessoas mudam a posição de localização da informação. Se antes ouvia um boato e iria ao jornal para verificar a veracidade da mesma, agora é o contrário. Vê -se em blogs e grupos de WhatsApp e pergunta para amigos “mais informados” para comprovar o que quem tem a função de comprovar perdeu a legitimidade de comprovação. Tipo assim: “o dono da verdade precisa de que alguém comprove a veracidade de sua verdade”. Assim sendo, transforma e deforma.
Junto a estas idiossincrasias de descompromissos caminha lado a lado a mentira como estratégia também. Por exemplo, dia 24 de janeiro de 2018, julgamento do Ex-presidente Lula pelo TRF4, o resultado foi publicado pela rede de Televisão Band antes de ter começado. Lá estava exposto: “ LULA É CONDENADO POR 3 X 0”. Para confirmar o que afirmei acima, após as críticas a TV reconsiderou e pediu desculpas. Seria presságio da Rede de TV? Hum!!!

 Os grupos de WhatsApp inquiri as pessoas, via de regra, de forma descortês, desrespeitosa e já o culpando (com suas verdades) e impondo-lhe a obrigação de se defender para não ser considerado culpado. Ou seja, ao acusador já não cabe mais o ônus da prova, mas sim ao acusado cabe comprovar que não cometeu tal evento. Vejamos: há uma mudança substancial no sentido da comunicação e do pensamento da justiça. Aliás, não tenho ainda a condição de afirmar se é a justiça que reflete o que a comunicação tem proposto ou se é a comunicação que se coloca a partir do que a judiciário tem feito. Tenho tendência a crer que se trata de a comunicação influenciar o judiciário e demais espaços e instituições sociais.

A situação chegou a níveis insustentáveis para as relações sociais pactuarem os acordos de convivência baseadas numa verdade verdadeira. Assim sendo, a criação de algumas leis foi necessária para permitir que alguns destes novos crimes estivesse sob uma legislação e, portanto, passível de punição. Para além de outras legislações já existentes. O presidente do Tribunal Superior Eleitoral - TSE, Luís Fux,  já aponta que uma das tarefas pra prioritárias para a sua gestão e para a eleição de 2018 será o combate ao fakenews. Não se trata de uma ação propositiva de melhoria constante da isonomia e qualificação do órgão, mas uma medida reativa ao que a sociedade tem construído. Por isso teimo em crer que são os meios de comunicação que tem pautado a sociedade (e o judiciário) como um todo.

Diante disso três ações me parecem serem necessárias, pelo menos:
1. Os atingidos Judicializar essas falsas verdades, suas fontes e seus reprodutores em grupos;
3. Os “donos das verdades” checarem as informações antes de divulgarem e de reproduzirem também;
3. O judiciário punir os “inocentes “úteis para a propagação da mentira como se fosse verdade.
Estas ações não resolvem o problema como um todo, mas, contribuem para um freio necessário da contrainformação e de mentira organizada para a constituição de uma informação que, mesmo sendo ainda vil, contenha em si um mínimo de formação da verdade enquanto princípio social. Sigamos!

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