Um branco por um preto, um judeu por um macumbeiro; um estadunidense por um brasileiro. O que significa a mudança no nome da escola na Bahia?
A Bahia é um Estado conhecido pela sua resistência histórica em favor das lutas dos menos favorecidos. Os heróis do dois de julho (que tornou-se ode com Castro Alves): a Mudança do Garcia no Carnaval, a eleição de políticos progressistas e a preservação e resistência do Candomblé e desmaia culturas do povo preto faz da Bahia, em especial Salvador pelo caldo cultural mais visível, ser referenciada como uma terra sem dono. Mas, em disputa. Da revolta dos búzios no litoral à Canudos no Sertão, passando por Lamarca e sua guerrilha, a Bahia não tergiversou jamais a sua resistência.
Dia 18 de abril de 2019 o Estado da Bahia, desta feita a partir de uma ação do Governo do Estado, através da Secretaria de Educação, dá mais uma demonstração do que este povo, solo, língua e gingado representa. (Dizem que a Bahia tem uma língua especial. rsrs). De forma corajosa e com demonstração e reconhecimento sobre os demiurgos desta soteropólis, confirmando que nossa história é feita de “sangue, suor e cerveja”, o secretário Jerônimo Rodrigues renomeia uma unidade escolar, localizada nas proximidades dos orixás do Dique do Tororó, de Colegio Estadual Mestre Moa do Katendê. Os orixás já deviam estar a um tempo em indagações para saber: “Que orixá é Vítor Civita no Dique do Tororó?”.
Mestre Moa, o moço lindo do Badauê, Bloco que ele liderou entre 1978 e 1992. Mestre Moa da capoeira de Angola; campeão do festival da canção do Ilê em 1977; e defensor da “reafricanização” da juventude baiana, agora terá diariamente seu nome grafado nos cadernos dos estudantes deste Colegio.
O ódio, Mestre Moa, e a intolerância que o desmaterializou-o desta terra não tirou-lhe ou abalou no seu legado. Muito pelo contrário. Foi covardemente assassinado defendendo posturas de amor e de respeito que eleva o seu povo. O nosso povo.
Não é somente uma escola renomeada, secretário. O decreto 471/2019 do diário oficial do Estado da Bahia de 18 de abril de 2019 é mais do que a letra fria da lei que a faz. A Bahia é quente para se acostumar com a frieza.
No cabeçalho dos cadernos, doravante, será grafado o nome de um Mestre de Capoeira, baiano, em vez de um jornalista e empresário branco, que nem no Brasil nasceu. Nos quadros será escrito o nome de um soteropolitano, salvadorenho, baiano e brasileiro, representante MOA do nosso povo; e teremos um Macumbeiro a um judeu escrito em letras bem grandes na frente de um prédio público que promoverá educação para a juventude baiana. COLEGIO ESTADUAL MESTRE MOA DO KATENDÊ.
O que falo não é para criar oposição ao que já era. Mas, para manter posição do que passar - e deve passar- a ser. Pois, a gente aprendeu (e ainda aprende em alguns lugares) a história dos outros e achamos, às vezes, que a história é nossa. Não é.
COLEGIO ESTADUAL MOA DO KATENDÊ, que se publique na revista.
Jocivaldo dos Anjos é mestre em gestão pública .
Salve! Salve! Mestre Moa no Orun! Mestre Jerônimo e Mestre Jocivaldo no Aiyê!
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