A MISÉRIA DO BRASIL E O BRASIL SEM MISÉRIA¹
Jocivaldo
dos Anjos²
Com
o intuito de erradicar a pobreza extrema no Brasil a presidenta da república,
Dilma Rousseff, lançou o programa pioneiro que visa erradicar esta mazela
social do país. Este programa é gestado e nasce quebrando alguns paradigmas e
na tentativa de construir estratégias reais e possíveis de se alcançar o sonho
(que também se torna em meta) da construção de um país realmente justo e
solidário, e, para tanto é imperioso a erradicação da pobreza.
Devido
a alguns pontos este programa já nasce avançado, pois ele vem trazendo de forma
nítida algumas questões de diagnósticos cruciais em qualquer ação de política
pública: Onde estamos? Onde pretendemos chegar?
Por onde devemos trilhar?
A
partir de conceitos internacionais o programa define ainda: O que é a pobreza? O
que é considerado pobreza extrema? Quem são os pobres? Onde eles estão? Qual o
seu sexo? Qual a sua idade? Etc. Trazendo
este diagnostico facilita (e muito) poder se alcançar os pobres e contribuir
para que os mesmos, a partir de ações protagônicas consigam se libertar deste
hiato social que é a pobreza a vida digna.
No entanto faz-se mister que se alargue o conceito de
pobreza, pois, conforme Marx ninguém
se emancipa sem trabalho. E pensar conjuntamente no que os
pobres farão durante e após as estratégias de transferência de renda é ação
plural de significado singular. Ao tratar da pobreza com o enfoque político
primando pela libertação, Pedro Demo alarga o conceito e afirma entender por pobreza
política a condição de massa de manobra da população, ou de ignorância
cultivada. Atuar de forma a combater este pensamento e atuarmos primando pela
libertação das pessoas deve ser uma das atividades, inclusive política, dos
autores, atores e publico deste programa.
Ao
afirmar que a erradicação da pobreza extrema deve ser uma ação protagônica é um
simples reconhecimento de que este programa pretende e precisa de trabalhar com
GENTE (gente com G maiúsculo) sujeitos e sujeitas de direito. Pois os mesmos e
as mesmas não podem ser considerados/as meros/as objetos de ação política, pois
a pobreza extrema está muito para além do não acesso aos R$ 70,00 considerados
internacionalmente. Erradicar a pobreza é também garantir a sua
sustentabilidade e assim sendo faz-se necessário outras ações correlatas que
sirvam de sustentáculos para esta meta.
É
sabido que no Brasil existem hoje cerca de 16 milhões de pessoas consideradas
pobres extremamente. Estes “cidadãos” são as pessoas que até hoje as políticas
sociais dos governos, em especial do governo federal, não conseguiu alcançar. O
não alcance deste público não está simplesmente ligado ao fato de os mesmos
serem muito pobres, mas também está intimamente ligado à invisibilização social
que ao longo da história fora construído em torno destas pessoas. Estas são
gente que a sociedade prefere ver e não enxergar e os governos durante muito
tempo tem se enclausurado em sua burocratização de produzir programas e de
esperar que as pessoas vão em busca. Isso é uma das formas de o Estado se
apresentar. É um conceito político de Estado: Fornecer as políticas públicas e
o povo ser o alvo destas políticas. Sempre foi o obvio. E nisso a presidenta
acerta quando afirma que “devemos ir em
busca dos pobres e encontrá-los”.
Esta
linha de raciocínio foi uma das atividades provocadoras do engendramento desta
pobreza toda, uma pobreza que está muito alem da falta, mas tem ligações
intimas com a dificuldade (quase impossibilidade) de produção. Ou seja, o círculo
vicioso: - se é pobre porque não possui e não possui porque é pobre. Ora se faz
necessário a criação de um círculo virtuoso: - se emancipa porque participa e
participa porque se está emancipado. - É importante também lembrarmos que no
latim mancipum significa escravo e ao percebermos que é
necessário a emancipação destas pessoas estamos também entendendo que, de
alguma forma, estas pessoas estão escravizadas ainda em pleno ano de 2011- .
entretanto, o fato de percebermos já se constitui num avanço, pois, assim já se
entende que é necessária esta superação.
Realizar
estas reflexões faz-se necessário neste momento no sentido de percebermos que o
programa Brasil sem Miséria não pode, - de forma alguma – se dar ao luxo de
esperar que o público prioritário vá em busca. Para esta população o Estado é
muito mais visto como um algoz, um adversário do que como um parceiro, logo é
imperioso que os técnicos, burocratas e políticos que vão conduzir este
programa tenham em mente que há primeiro a necessidade de se realizar um
processo de sedução com estas pessoas. Depois da sedução, garantir o mínimo
para que estas pessoas possam continuar vivas; depois realizar formação,
capacitações especificas para a libertação dos mesmos e acabar com a
dependência da transferência de renda. Para tanto se faz necessário olhar para
os rincões do Brasil onde a pobreza domina há muito e que a muito cada vez mais
tem produzido mais pobres, seja para a importação ou para o consumo interno.
Nesta estratégia política estes cidadãos não devem ser apenas dados estatísticos.
É necessário que tenhamos leituras humanísticas com os mesmos.
Estes
pobres homens pobres, pobres mulheres pobres, pobres jovens pobres, pobres
crianças pobres e, (contrariando devido à convivência diária- pois conforme
Eduardo Galeano, políticos militantes são pensantes e sentintes ao mesmo tempo)
pobres idosos pobres. Conforme o estudo do Instituto de Pesquisa Econômica
Aplicada – IPEA o Brasil é um país sem idosos pobres, entretanto vivenciamos,
principalmente na zona rural, que muitos idosos tem a necessidade de dividir
seus salários para ajudar a criar filhos e netos, o que faz com que sua renda
per capta caia consideravelmente. Logo à guisa de condução deste programa deve
ser entendendo que há uma situação muito complexa, mas que a mesma não é
complicada, pois para ela há alternativas.
Ao
diagnosticar e cadastrar estes e estas pobres já é um passo considerável dado,
é um processo de institucionalização destas pessoas. No entanto este “simples”
fato não constitui em si a superação do problema macro. Há ainda um
entendimento que pode contribuir, mas que também pode atrapalhar que é o fato
de se entender que a superação da pobreza na zona rural é mais simplificada do
que na urbana, devido ao entendimento de que a inclusão produtiva na zona rural
já é um marco de superação da pobreza.
Sabemos
dos conflitos ocorridos no campo brasileiro. Não falamos de conflitos entre
fazendeiros e sem terra apenas (não falo do Movimento dos Trabalhadores Rurais
sem Terra, mas, alargo para aqueles e aquelas que vivem no campo, mas não
possuem um lugar para plantar) mas também; mas falamos do conflito de
auto-estima, de valorização, de negação do sujeito pela educação, pela mídia,
pela ausência de infra-estrutura dos governos para estas comunidades, da inexistência
de saneamento básico na zona rural, da invisibilidades de alguns segmentos
sócias do campo e que, necessariamente devem permear o êxito deste programa uma
nova concepção de campo e o abalo na estrutura fundiária existente no Brasil de
hoje, que ajudaremos a ser distinto do Brasil de amanha.
A
pobreza no Brasil tem sim este caráter rural, este caráter jovem, este caráter
étnico-racial, este caráter de gênero, este caráter infantil e sabemos que
estes “caráteres” todos foram provocados por pessoas sem caráter. Para
superarmos a questão da pobreza devemos enxergar também as especificidades
destas políticas, os recortes, o incentivo à participação da sociedade civil e
o convencimento do poder publico que é impossível se pensar em política pública
ignorando estes recortes.
Muitos
conceitos cristalizados (assim como a pobreza extrema na Bahia entre os anos de
95 a 2003) conforme o IPEA) necessitam de serem superados. O elemento mais
constitutivo e provocador da pobreza não são as famílias de pobres numerosas de
pobres conforme afirmava Malthus, mas sim a ausência dos recursos nas mesmas.
Outro dado que não é verdadeiro é a afirmação preconceituosa e maldosa de que
programas de transferência de renda como o Bolsa Família são provocadores do
aumento de pessoas na família, é mentiroso também conforme o IPEA.
Portanto, prospectar outro país, em parceria (inclusive com
o pensamento) daquelas pessoas que serão o publico prioritário deste programa é
algo imprescindível para o alcance do êxito do mesmo. Ainda concordando com Demo (2000) “a sociedade
como um todo precisa aderir a este confronto, inclusive ‘intelectuais orgânicos’.
Mas a energia vital é competência política do pobre.”
É necessário gestarmos sob a “ápice do
cuidado” e sabermos sempre que antes dos números estamos trabalhando e cuidado
de gente e cuidar de gente é priorizar quem mais precisa para o alcance de um Brasil sem Miséria.
- Escrevi
este texto no sentido de realizar uma pequena reflexão sobre o programa do
Governo Federal Brasil se Miséria, tecendo alguns comentários acerca do
mesmo. Após ler o programa e participar de algumas ações de políticas públicas
desde o ano 2000 acho que temos a obrigação política de participarmos
ativamente da construção, implementação, avaliação e prospecção deste
programa. E, acredito que A MAIOR
MISERIA DO BRASIL é labutarmos com homen e mulheres que acreditam que
podem pensar pelos outros e O
BRASIL SEM MISÉRIA necessita de ser, pelo menos, a tentativa desta
superação.
- Jocivaldo
Bispo da Conceição dos Anjos é graduando em Letras com Espanhol pela
Universidade Estadual de Feira de Santana – UEFS, pós graduando em Gestão
Ambiental pela Faculdade de Tecnologia e Ciências – FTC, Feira de Santana
e está atualmente ocupando o cargo de Chefe de Gabinete da Prefeitura
Municipal de Antonio Cardoso Bahia.

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