A MUDANÇA QUE NÃO MUDA¹
Jocivaldo dos Anjos ²
Como uma espécie de camaleão, setores da sociedade que tem como principal meta a manutenção do poder a qualquer custo, sem pensar nos agravantes sociais do mesmo, a cada dia quando certa nomenclatura se desgasta logo se muda o nome de tal “coisa” para afirmar ser diferente, entretanto, defendendo e promovendo as mesmas práticas.
Isso tem acontecido em áreas distintas e até com partidos políticos para, como uma fênix tentar renascer das cinzas. Cinzas estas que deveriam e devem ser jogadas ao mar em seu lugar mais profundo e de vez por todas ser extirpado da face da terra. A terra deve ser um lugar para os bons.
Conforme Moysés Rodrigues (183-201 vol. 5, n. 1, jul 2009) O deslocamento discursivo de ambiente para meio ambiente, de desenvolvimento para desenvolvimento sustentável, de matérias-primas e energia para “recursos naturais”, de força de trabalho para “recursos humanos” oculta a existência das classes sociais e a importância do território, desloca conflitos de classes para um suposto conflito de gerações e os conflitos de apropriação dos territórios para a natureza, o ambiente, o bem comum da humanidade.
Agindo assim escamoteia-se o âmago das lutas e dos enfretamentos sociais que devem ser trincheiras. Afirma-se que o novo nome já da contas das respostas que a sociedade necessita, o único problema é que homens e mulheres não comem palavras. Estas devem servir para alimentar e aguçar a massa crítica.
Mudar o nome de PPB para PP, de PFL para DEM, bem como dos apontados acima por Rodrigues é, de fato, uma falta de coragem de assumir-se enquanto tal e de defender explicitamente o seu ponto de vista social. Não me reconheço no debate da maldade escondida no medo do enfrentamento dos bônus por posições assumidas e da falta de sentimento coletivo.
A bola da vez, há mais de uma década, vem sendo também o tão propalado Desenvolvimento Sustentável. “Saciar a vontade das gerações atuais sem comprometer as gerações futuras” virou jargão desde aos mais aguçados timoneiros defensores das pessoas até o maior dos conservadores. A questão a ser colocada é: Quem é esta geração futura que precisamos não comprometer? Porque se for os herdeiros dos herdeiros dos herdeiros dos escravocratas, dos latifundiários, dos senhores de engenhos... Aí fica difícil me pedir para que eu atue para garantir que estes tenham no futuro vida melhor ainda. Há muita coisa escondida atrás deste Desenvolvimento Sustentável. Se é para ser bom para uns, tem que ser para todos.
Segundo Amartya Sen (SEN, 2000), “há diversos condicionantes para pensar este desenvolvimento como liberdade: acesso à saúde, à educação, ao lazer, à cultura, à informação, ao conhecimento. Pensar o desenvolvimento como liberdade significa a remoção das fontes de privação: remover a pobreza econômica, que rouba das pessoas a liberdade de saciar a fome, de vestir-se, de morar. Implica, necessariamente, a retomada da importância” do espaço, do território”. Os desafios de compreender como se torna senso comum falar em desenvolvimento sustentável, sustentabilidade, na garantia de vida das gerações futuras, na biosfera como bem comum só poderão ser transpostos se forem debatidas questões fundamentais do mundo contemporâneo, tentando retirar a cortina de fumaça que dificulta compreender as contradições e os conflitos que permeiam a produção, a reprodução e o consumo do espaço e das formas de organização societária. Conclui.
E, para não concluir, mas para despertar me valho do grande Mestre Paulo Freire quando afirma em seu livro A Importância do ato de ler (p. 16) que o processo educacional reproduz a ideologia dominante, mas ainda afirma que não é possível pensar sequer a educação sem que se pense a questão do poder. Então que empodeiremos nosso povo para não reproduzir a ideologia do dominante sem perceber. Ao povo o poder, e não a qualquer povo. A um povo preto, a um povo pobre, a um povo da roça e da periferia a uma pova ( só para demonstrar a crueldade de gênero na gramática, em que o A é mais que uma vogal temática ou um marcador de gênero...), a um povo jovem. Este(s) povo(s) também necessita de provar o que é o poder. Poder, a um povo bom.
1. As mudanças dos nomes me fez escrever este pequeno texto. Acredito que temos uma tarefa muito importante para com a sociedade: tirar a cortina de fumaça que há no entorno dos nomes. E, que somente a mudança dos nomes não necessariamente representa uma mudança de comportamento. Mudar para ficar politicamente correto tem que vir acompanhado de práticas politicamente corretas.
2. Jocivaldo Bispo da Conceição dos Anjos é graduado em Letras com Espanhol e suas respectivas literaturas pela Universidade Estadual de feira de Santana – UEFS e pós graduando em Gestão Ambiental pela Faculdade de Tecnologia e Ciências – FTC – Feira de Santana; Conselheiro Estadual de Juventude e Militante político.

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