CORPOS ESTRANHOS (DA SUTILEZA DO RACISMO)¹
Jocivaldo dos Anjos²
É entendido e plasmado no esteio social que tudo o que não
segue um padrão, construído e “aceito” (não necessariamente por todos), mas por
quem tem poderes de decisão deva ser considerado estranho, diferente, anormal,
esquisito etc. Sabe-se ainda que a palavra estranho deriva da palavra
estrangeiro, (aquele que é de fora), ou seja aquele ou aquilo que não pertence
ou não deva ou devia pertencer a tal espaço, uma vez que suas características
não condizem com o que a historia até então denuncia.
A leitura do que o que é diferente ou anormal é forjada
vezes pela própria ciência e outras vezes deriva das relações sociais. Muitas
vezes, se arvorar em determinar que tal corpo é ou deve ser estranho a tal
lugar ser algo politicamente incorreto as pessoas se contentam em achar e
propalar somente em seus nichos de amizade. Ocorre que, no campo político
determinar que tal “corpo” é estanho pode ser considerado algo ainda que aceito
nos âmagos, desacreditado ou desprestigiado socialmente, o que leva a esta
determinação ou achismo ser trabalhada na sociedade de forma sutil.
Esta tenacidade quase que imperceptível carrega em si uma
carga de conceitos e preconceitos arraigados e promotores de ações que vez ou
outra são expostas. E, não é exposta pela simples vontade do delator. Não é
necessário arrolá-lo (a), as posturas fingidas ou ainda sem consciência
ideológica não há alvenaria que a sustente. A verdade é dura e cruel, alem de tudo
traiçoeira, não há homem ou mulher que a negue por muito tempo.
Entretanto,
em alguns casos, principalmente no tocante à raça/etnia a afirmação e a luta em
fazer dos lugares de corpos estranhos (leia-se corpos negros em lugares aceitos
como de brancos e corpos brancos em lugares definidos como de negros) corpos
aceitos faz-se urgente. Parece existir uma leitura por parte de algumas figuras
brancas de que certos espaços e certos conhecimentos deveriam ter cor. E, por
outro lado, mas tristemente percebe-se também que há alguns (as) negros (as)
que percebem o mesmo, e ainda pior, percebem que se o corpo que era outrora era
estranho e agora já é aceito deva se
comportar doravante como um corpo estranho em meio aos seus corpos pares, pois
participar do mesmo reduto que estes corpos pode o infectar e daí lhe ser o que
patologicamente conhecido como corpo estranho.
1. Este
testículo surge diante de uma necessidade de se discutir, principalmente entre
o povo preto o conceito de luta e em que espaços devemos fazer enfrentamentos e
de que forma fazê-los. Além disso ele tem um direcionamento. È necessário que
façamos diariamente a nutrição da nossa mente com nossas historias, trajetórias
e proposições futuras. Não dá para ter pele preta e
postura parda. 24/05/11
- Jocivaldo
Bispo da Conceição dos Anjos é militante político, graduando em letras com
Espanhol - UEFS, pós graduando em Gestão Ambiental - FTC, Secretário de Formação do PT
municipal, Conselheiro Estadual de Juventude - CRJPS e está Chefe de
Gabinete da Prefeitura Municipal de Antonio Cardoso. Ah! Antes de tudo é preto.
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