JOVEM E MULHER NO MEIO RURAL: ATUALIZAR O DEBTE E VISITAR OS CONCEITOS ¹ Jocivaldo dos Anjos² Tratar jovens e mulheres ou mulheres e jovens como se um fosse um complemente do outro ao se tratar de inclusão dos “esquecidos” na Agricultura familiar é um equívoco. Se equivoca na saída e a chegada não passa de uma constatação do erro de saída e do único resultado possível da chegada: ou um dos dois ficam mais atrás – porque os dois continuaram atrás- isso, a partir do gênero expressão sexual e “sensibilidade” para o tema do/a gestor/a, do tema que tiver mais evidenciado no momento e sofrer mais pressão social ou tão somente, como de costume ocorre como uma força semântica do termo que compõe os textos orais ou escritos. Não entram nenhum nem outro no produto final. Mas, existem precedentes. No final da década de 1990 ficou muito forte nos movimentos sociais brasileiros a realização de oficinas, projetos de intervenção e ações distintas a partir de um termo denominado de raça, gênero e etnia. Se tratava de uma tentativa, simbólica, amorosa e apaixonada de cuidar destes e destas que não conseguiram ser incluídos/as a partir da Constituição Cidadã de 1988. Logo, este se tornou um tema que não parecia tratar de setores sociais distintos, mas somente de um mesmo espectro. Parecia ser um sujeito composto. Composto e sem postos. A partir da percepção pelos movimentos de que esta junção servia para evidenciar, mas não superava o problema foi que acabou por ser dividido e mais: a parte mais frágil desta junção, mulheres negras preferiram, com racionalidade plausível, se ver para além da questão racial e para além do gênero. Perceberam sua unicidade que não cabia naquele combo raça, gênero e etnia. Colocaram a etnia em seu lugar simbólico e inexistente na vida real, ajuntaram os seus sentidos e criaram o que as coube. Poderíamos qualificar esta atitude com um dos maiores avanços na constituição de sujeitos que minha geração percebeu. “Se melhorar para todo mundo precisa de melhorar para mim também. Eu não sou todo mundo” Precisamos de avançara também como elas, as mulheres negras. Dito isto, tenho percebido, e todo mundo também, que ao se pronunciar sobre juventude e mulheres nos textos a indissociabilidade desprovida de materialização da politica pública tem tomado a cena textual e politica em nossos tempos. Em alguns casos de forma organizada para discutir o todo e não resolver nada e em outros casos por uma tomada ingênua de que este caso se resolve se somar forças dentre os sofredores destes tempos, no meio rural, e que, estes juntos tomaram forças e vão conseguir avançar na pressão popular ou na formatação da política pública. Ledo engano. Ao se tentar juntar os conceitos se afasta os dois. E, afasta necessariamente a mulher jovem rural e cria ainda uma confusão sentimental para a mesma se perceber socialmente. Ela é mulher jovem rural ou jovem mulher rural? Como ela não se percebe, de forma nítida, nem numa e nem noutra categoria ela, no caso da Bahia simplesmente procura identidade em outro locus de existência da sociedade e... migram geográfica e fisicamente, simplesmente. A Bahia possuía em 2010 dentre os seus 417 municípios com apenas 26 apontando a presença de mais mulheres com idade entre 15 e 29 anos do que a presença de homens. Ou seja, em 391 municípios existia mais homens em idade juvenil. Fazer política pública é uma decisão de povoamento, despovoamento e de territorialização e de desterritorialização também. Desta forma, a tentativa de junção das pautas da juventude rural na Agricultura Familiar com a das mulheres rurais na agricultura familiar acaba por não contribuir de forma corajosa e necessária para nenhum dos públicos e causa danos irreparáveis para a junção apurada desta disjunção: a jovem mulher (ou mulher jovem) no meio rural na Agricultura Familiar. Como devemos aprender a pisar pelos lugares já passados e testados eu prefiro ficar com os ensinamentos das mulheres negras. Cada um na sua e se junta nas pautas convergentes. Mais ainda, a resistência destes grupos pelas políticas especificas precisam de serem melhor observadas e se nutrir da mesma coragem que a mulheres negras tiveram. Pois, na junção dos esfomeados não se aumenta o tamanho da luta, mas o tamanho da fome. Sigamos! 1. Texto escrito para subsidiar a construção de ações pra a juventude rural e que, também pode contribuir com outras áreas de políticas públicas para o desenvolvimento rural da Bahia. 2. Jocivaldo dos Anjos, 09/01/2019.

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