A META DO MITO E O MITO DA META¹

Jocivado dos Anjos²


  É sabido na sociedade que o mito é algo falso ou alegórico, mas que ganha relevo nas relações sociais. Mas, como e por que nascem os mitos? Veem a tona despretensiosamente ou são criados com uma finalidade? Como em nossa sociedade sabemos que tudo é construído, logo, por analogia silogística os mitos também são constructos sociais e, assim sendo ela obedece a um rito, têm objetivos e logicamente uma meta. Daí surge a ideia do trocadilho titulador deste texto. O mito, assim sendo, são representações cujas se utilizam para o alcance de uma meta e cada mito tem sua meta.

São diversos os mitos engendrados na sociedade brasileira, mas deter-me-ei neste texto somente a um e, quiçá, o mais badalado nas ciências sociais com recorte étnico-raciais: o mito da democracia racial; muito difundido pelo direitista, escritor do Clássico livro Casa Grande e Senzala, Gilberto Freyre, mesmo sem ter alcunhado esta expressão ele organizou sua obra com o intuito de demonstrar que o Brasil era o país da harmonia entre as raças, logicamente com o intuito de negar a existência do conflito e, com isso a ausência de implementação de política publicas promotoras da superação do problema do acesso aos bens pelas diversas categorias sociais. Pois as a aplicação das políticas públicas devem resolver um problema, e, se este problema não existe, logo não necessita de ser resolvido.
A utilização deste mito serviu para invisibilizar um problema latente na sociedade brasileira que foi a participação social e política do povo negro. A afirmação de que os homens e mulheres nascidos no Brasil pós-escravidão (depois de 13 de maio de 1988) todas/os nascem livres serve para criar o mito da liberdade e com isso se serviu baseado nos grandes clássicos do liberalismo do sec. XVIII. Já afirmara Marx que as condições existentes são influenciadoras máximas das possibilidades humanas. (Manifesto do Partido Comunista). Logo, dizer que alguém nasce livre numa palafita de uma favela é diferente de dizer que alguém nasce livre em um palácio, sem embargo, perante a legislação vigente o mito da liberdade opera escamoteando a dura, perversa e planejada realidade social brasileira.
A declaração dos Direitos Humanos de 1948 tinha por premissa dar uma resposta a toda maldade provocada pela II Guerra Mundial ( que por sinal é um grande mito. Foi o mundo todo que entrou em Guerra? Mas, basta os EUA e a Europa fazer parte já ganha um contorno mundial) promovida contra os judeus. A difusão destes direitos não ocorreu no mesmo tom e na mesma dimensão em todo o mundo, mas serviu para a manutenção do mito do principio da igualdade nas relações sociais. Com isso não quero desconhecer a importância desta enorme conquista, mas de problematizar quem mais se beneficiou com esta conquista e a quem esta conquista não alcançou até hoje.
A descoberta científica de que não havia raças humanas, mas somente uma raça humana serviu para que a direita branca conservadora se utilizasse deste fato científico para negar o racismo. O mito da existência de raças jamais deve ser parâmetro para moldar a relação entre negros e brancos na sociedade brasileira, uma vez que a existência do racismo na sociedade brasileira não é de ordem biológica e sim social. São homens e mulheres que constroem os espaços racializados. Ninguém nasce racista, mas a sociedade opera para esta concepção desde o primeiro momento em que a criança nasce, nos diferentes rincões deste país.  Numa sociedade racista as relações sociais devem ocorrer entendendo a existente desta marca.
A garantia de cota para mulheres participar da vida política cria ainda o mito da participação feminina, bem como visualizar a presidenta Dilma não oportuniza para todas as mulheres a condição social para as conquistas. Para além desta problematização é necessário ainda uma reflexão sobre que são as mulheres que mais participam, mesmo neste universo de muito poucas ainda. Qual a sua cor? Onde elas moram? A que famílias pertencem? Esus graus de escolaridade? Realizar estas subdivisões não é dividir a luta e nem cartesiasinar assaz as relações, mas realizar inferências necessárias para um debate necessário e urgente nas terras tupiniquins.
 Afirmar para a sociedade que a presença de Joaquim Barbosa enquanto ministro do Supremo Tribunal Federal, a corte máxima da justiça e da presidenta Dilma Rousseff não deve servir para criar o mito de que já está resolvido o problema dos negros e das mulheres com estas representações. Estas são importantíssimas no sentido da construção da autoestima tanto das mulheres, quanto dos negros, mas estratificar mais as/ os sujeito/as portadores de maior sofrimento deve ser o delineador dos caminhos para a construção das políticas publicas reparatórias no sentido de uma esruturação mais equânime e igual na sociedade brasileira. É necessário entender e propalar que todo mito tem sua meta.






1. Este texto tem por finalidade a exposição sobre o entendimento acerca das leituras propostas para a II Unidade do Curso de Extensão em Genero e Raça promovido pela Universidade Federal da Bahia – UFBA em parceria com A Secretária de Políticas Publicas para Mulheres.
2. Jocivaldo Bispo da Conceição dos Anjos é militante político e conselheiro estadual de Juventude.


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