Não é a causa da morte, mas o sentido da vida
Numa pequena cidade de cerca de 10.000 habitantes ocorreram em menos de uma semana duas mortes. Um jovem de menos de 29 anos e um idoso de mais de 60 anos. Os dois casos , sem avaliação dos precedentes para cada, faz parte do que a ciência jurídica chama de morte por causas externas. Eles morreram por tiros de armas de fogo. Por bala. Bala não doce. Bala que fere o ferido e não cicatriza as dores das famílias.
A causa mortis dos dois não é uma novidade num país como o Brasil, que mata anualmente mais de 60 mil pessoas com esta mesma modalidade. Quando alguém sucumbi desta forma se pergunta, via de regra: - era envolvido ou envolvida. Como se o falto de ser envolvida (comércio ou uso de substâncias psicoativas) fosse uma senha para morrer. Pois bem. No Brasil parece ser. E, em tupiniquim, foi invertido o princípio do direito que prevê “in dúbio pró réu “. Se da o contrário. Primeiro acusa e atira. Depois pergunta-se. Indaga-se sobre o crime, se estava armado e iria frustrar o assalto, se atiraria contra os agentes de segurança pública, se iria revidar a fechada no trânsito, se iria desrespeitar etc. na dívida se atira. Né?
O debate que quero trazer não se trata da forma com que estas pessoas conviveram, mas na autorização que nosso Estado Democrático de Direito tem dado para matar. Parece (e é) uma autorização implícita, mas explicitada pela guerra não declarada que o Brasil vive. Ainda que algumas pessoas cometam algum tipo de infração penal o Estado não tem autorização para matar ou permitir a feitura da morte. A prisão existe como uma estratégia de recuperação das pessoas que cometerem algum delito. Mas, parece não haver esta perspectiva em nosso país, visto que o processo de recuperação interna e externa do apenado e ex-detento não fazer parte da gramática de política pública e social para a recuperação das pessoas. Ainda não há pena de morte no Brasil. Não há?
O debate a ser feito não é sobre a trajetória do ex-vivo, repito, mas, de dialogar sobre o sentido da vida. Pois, quem tem morrido no Brasil são pessoas de diversas vertentes sociais (mas, sabemos muito bem do tipo fenotípico dos preferenciais das balas não doces) devido a causas totalmente desnecessárias.
A ideia da morte superou a ideia da vida no Brasil. Nem estou falando da vida em abundância que a Bíblia traz em João 10. Estou falando da sobrevivência de um corpo esguio numa mente pouco instruída e numa alma de sonhos. Se assim couber uma característica de quem tem o onírico por previsão. Não é por outro motivo (combinado) que há um aumento gradativo e desorganizado (organizadissimamente realizado) das igrejas evangélicas em todos redutos da pobreza. Aliás, maior ainda do que postos de saúde etc.). Pesquisas recentes comprovaram, inclusive, que a religião é tida como um fator de sucesso na vida. Ela supera a educação. “Não faça por ti, eu te ajudarei”.
Como alternativa a esta hecatombe, esta guerra declarada o presidente da república presenteia a população como mais armas para reflexão e menos livros para inflexão. Preocupante, já diria dois agentes de segurança pública do Estado sobre isso, de forma bem sensata, entendi. . Pois, nesta autorização, que já tratei num texto recente, não está a formação psicológica das pessoas que vai fazer uso, de forma apropriada e uma explicação a partir do sentido da vida para tal posse e porte da arma. Para que serve a arma?
A ordem do dia pede debates em todos os espaços. Desde a casa até o mais alto grau de debate sobre o sentido da vida. O que é um corpo é porque ele deve deixar de existir. Achille Mbembe e Michel Foucault tem tratado sobre o tema de forma inteligente, instigante e inspiradora. Sabemos até o porquê de estes corpos serem indicados a desistência da terra. Mas, o que isso causa nas sociedades?
Na Bahia se estima que há uma perda de mais de 3% do PIB devido o discrepância da População em Idade Ativa e da População Economicamente Ativa. Presos e mortos somente não deixar de produzir mais. Ajuda a concentrar renda nas mais de algumas empresas que fornecem serviços correlatos é esta política de segurança pública. Debate que não aprofundarei aqui. Mas, somente para dizer que a morte como sentido da vida ela altera toda a estrutura social e somente serve a uma sociedade que ainda não passou pelos ensinamentos contratualistas de uma sociedade organizada. Vale ver (Hobbes, Locke é Rousseau) pelo menos.
Estamos voltando a um tempo da lei de Talião. “Olho por olho e dente por dente) e o pior: isso tudo com a presença ausente do Estado quando convir e ausente e presente para a manutenção do status qui. Desigual e combinado, né Trotsky? Alguns banguela e desdentados que não saíram nas fotógrafo.
Texto maravilhoso!
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