Política para a juventude não é coisa de jovens

De, com e para a juventude. O século XXI começou com esta trilogia. Esta ideia de que quem deveria fomentar política para este público estratégico, reconhecido pela gramática política e social a partir do governo Lula.
Embebidos nos ensinamentos de Bourdieu, na academia e nos da ONU, na proposição das políticas, esta geração inicia “querendo tudo”. A política deve ser feita pela juventude, com a juventude e para a juventude. E os mais velho? Adultos e idosos? Bem... Devido a confusão semântica -daqui pra lá e de lá pra cá- adoraram a ideia. Muitos jovens não queriam ouvir os mais velhos e muitos velhos não queriam ouvir os mais jovens. Logo, sopa no mel. Todo mundo satisfeito com a distância. Um por se achar protagonista (ainda que o protagonista apensas compra um papel na cena determinado pela direção e outro por se achar não direção, mas não na cena. Muita novidade) A pergunta mais importante sobre isso é: Onde está o poder do ponto de vista etário? Como fazer para dividir ele? Quais a formas de interação entre os poderosos de corpos e os poderosos de bolso e poder? Aí, mais do que a proposição da ONU, Bourdieu tinha razão. (Aliás, dentre os ocidentais, este francês é bem sabido, né?) a juventude, em certa medida, continuou sendo APENAS UMA PALAVRA.
Parte significante da juventude. (Leia-se juventude associada aos movimentos estudantis, urbanos e com certo grau de participação em partidos políticos e de esquerda essencialmente) também embarbou na ideia e achou bom este pseudo-protagonismo. Sobre o protagonismo devemos reconhecer que jamais houve na história do Brasil uma participação tão forte da juventude em proposição de políticas públicas para o setor específico. - Favor não venham nos falar da juventude de 1968. Fora o nostalgia e a beleza da luta de maio de 1968 em todo o mundo, o Brasil não teve naquela feita uma plural participação de jovens. Foi bem localizado em cor de pele, local de moradia, classe social, nível de escolarização etc. - . Já na primeira década do século XXI houve uma pluralidade de jovens jamais visto. Negros, rurais, gays, mulheres... foi uma linda pintura numa pintura linda. Eu estava lá também.
Após a mobilização e com comprometimento histórico com a pauta, o governo Lula incorpora e cria uma série de políticas para este segmento. Criação de um Secretaria Nacional de Juvuntude SNJ, a quem a militância denominava de Ministra a secretária, em referência à representante da pasta, criação do Conselho Nacional de Juvuntude - CONJUVE, priorizando a participação da sociedade civil em dois terços, criação de um Programa específico para a juventude, inclusão do nome juvuntude na constituição a partir da emenda 65 e o mais importante que foi a agenda da política e das políticas públicas brasileiras ter recebido a juventude enquanto categoria em suas pautas. Não havia político que não falasse sobre as PPJs e sua necessidade. No entanto, quem entende um pouco sobre o capitalismo e sua vertente neoliberal brasileira (o país vinha de 12 anos após a redemocratização de políticas neoliberais)  O pano de fundo do capital em maior escala foi a visibilidade juvenil e a inclusão deste jovens. Prioritariamente... no mundo do consumo. Consumo podemos entender em sentido ontológico, inclusive.
O Brasil viveu o boom da juventude. Nunca houve tantos jovens do Brasil. Aliás, houve jovem pela primeira vez. Como não havia juventude em definição etária, pela primeira vez aprendemos que jovem deveria ter entre 15 e 29 anos e, nesta idade nunca houve um contigente populacional tão grande. As políticas foram efetivas e a geração de emprego, (PIA e PEA dialogavam como doía casais de namorados) lindo estava o Brasil.
E a interação entre os jovens e adultos, como andava?  Não precisava de andar de forma coletiva. Logicamente que algumas vertentes das juventudes tentaram fazer esta ponte. Mas, parte significativa do cimento nas costas de parte da juventude capacitadas para serem pedreiros foi usada para fazer os muros. E as pontes... ficou para outra parcela da juventude. Aquele que foi tributária da moratória social juvenil, por ser o modelo adotado pelos governos petistas. A relação intergeracional se dava mais entre os mandatos mais próximos e, diga-se de passagem, não somente entre os partidos de esquerda , mas em outros também.
Os movimentos juvenis se centraram em propor a criação de espaços juvenis nos governos e sua ocupação pela população em idade de 15 a 29 anos. E nas demais pastas haviam propostas de entrada de jovens na gestão? Jovens poderiam ocupar outras pastas da gestão, que não fosse as pastas de PPJ? Pessoas de mais de 29 anos eram bem vistas na coordenação de “espaços de juvuntude” na gestão? Lógico que não. Isso gerou algo interessante.
As ações pra a juventude não se tornou agenda de governo a longo prazo. Apesar do esforço que deve ser reconhecido pelo governo Lula de forma pujante. Pois, para se tornar uma agenda política precisaria de ser incorporado na agenda maior de desenvolvimento nacional. À keynesiana, Lula conseguiu tal e importante feito. Mas, em diversas ações posteriores os de mais idade não incorporaram a ideia de juventude como uma política matricial. O governo decidiu, mas parte da administração pública, não.
As disputas internas levaram a juventude a pautas menores do ponto de vista da gestão por conta de pessoalização das mesmas, e, desta forma em alguns lugares as políticas para a juventude se desloca das agendas matriciais e sistêmicas (centralizadas do âmago dos governos) para agendas finalistaicas e centralizadas nas agendas de das políticas sociais. Leia-se pastas de Direitos Humanos etc. nada mais atrasado para se cuidar de políticas que precisam de ser transversais e apontar uma horizontalidade de pensamento e organização da política devido a sua pluralidade, historicidade e necessidade.
Por conta destas discrepâncias varias políticas, em diversos campos, direcionadas para a juventude não tem sido promovido pelo protagonismo da juventude. Nas Secretarias ou Ministérios que possuem assessorias de juventude os seus representantes são considerados a 5ª pessoas depois daqueles gatinhos que frequentam geralmente estes espaços. Logo, chegamos ao que propusemos. Mas, devemos propor diferente.
Políticas para a juventude não pode ser política apensas promovidas pela juventude. Precisa de ser de todo o governo que se propõe a fazê-la. É preciso de acabar com o déficit cognitivo de achar que somente jovens podem ser gestor de juventude. Nisso há uma confusão entre gestor de políticas públicas, propositor e público prioritário da política. Centralizar a política pública no cérebro dos governos para que todas as pastas tenham compromisso com a pauta. Aprovação pelas casas legislativas das diversas propostas para o segmento e entender que a juventude é plural e sua régua não pode ser o movimento estudantil e nem e os grupos organizadoras, tão somente. Se antes já não se podia, hoje se pode menos ainda ter esta régua que vai até o 30 e a juventude vai até o 300.
Portanto, políticas públicas de juvuntude não são coisas para jovens. Deve ser para todos. Sob pena de não ser para ninguém.

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