Proposteiros¹

Jocivaldo dos Anjos²


Há na sociedade grandes possibilidades que são expressas através dos falares, de realizar as aproximações ou assimilações para a composição de algumas palavras. Estas palavras são denominadas de neologismo. Estes neologismos ocorrem porque a nossa língua mãe, o latim, foi uma língua portadora de duas vertentes de falares que perduram até hoje em nossa sociedade. Uma falada no palácio e outra falada pelo povo. Nas ruas, nas relações sociais de língua viva etc.

Contudo saindo do rol da metalingüística e fazendo uma analise mais política e social da expressão proposteiros, que é sobre a qual quero me deter neste artigo, observamos bem mais do que as questões relacionadas à língua, mas sim, uma gama de informações, que sobre as quais quero aqui apenas pontuar algumas.

Geralmente esta palavra é endereçada àquelas pessoas que para tudo ou quase tudo tem uma proposta a fazer, têm algo a dizer. Estas pessoas em alguns lugares são vistas como pessoas portadoras de conhecimento e, que podem assim, contribuir nos espaços de debates e de discussão e, em outros espaços (um tanto mais sedimentado, digamos) pode ser encarado como um participante na festa sem convite. No popular um “entrão”. Um tirado a sabichão, ou alguém que quer mudar tudo etc.

Estas duas leituras são pertinentes para a realização de uma ação pedagógica sobre o termo e sobre estas duas possibilidades de ocorrência. Pois a depender do olhar que se tem sobre a escola podemos construir proposteiros ou embusteiros.

Em escolas mais avançadas, que adotam metodologias mais participativas, que permitem que os estudantes proponham, se ousem e se ousando descortine mundos acertem e erram, acreditem e também desacreditem, possam perceber o seu papel de objeto na sociedade em muitos campos e, uma vez se percebendo enquanto objeto possa potencializar a sua arribada à condição de sujeito. E estes ao alcançarem esta posição passam a propor, a sonhar com uma nova sociedade e querer outros mundos possíveis e desejáveis. Estes são os proposteiros. Homens e mulheres, meninos e meninas que percebem que nada deve ser algo dado, mas sim algo construído nas dificuldades do dia-a-dia. Que mesmo sabendo das dificuldades de acontecerem algumas ações sabem que é extremamente necessária a ocorrência das mesmas para o alcance da cidadania.
           
Entretanto, há aqueles que preferem que os alunos sejam comportados, que só participem se forem convocados à participação. Que sempre “respeite” o professor. E, neste respeito há muito mais de medo da reprovação ou da perseguição do que a conquista do respeito verdadeiro, que, por sua vez é forjado na crítica, na discordância, no embate, mas sempre sabendo de que a discordância do outrem não o dar o direito de achar que sua posição deva ser sempre a certa e, que deva sempre prevalecer. Alunos que se comportam sempre que não se enraive e que é sempre obediente. Estes são os embusteiros. Estes enganam o professor e se engana pensando que está enganando apenas o professor. No sentido da palavra é um impostor porque é fingido, é um sedutor porque seduz o professor. E acredita nessa sedução como forma de sobrevivência social. Estes prestam ou são levados a prestar um desserviço a sociedade. Alguém que terá limites para respeitar os espaços dos outros e não perceber a discordância como algo natural na sociedade.

O maior educador do Brasil, Paulo Freire, afirma em sua Pedagogia da Autonomia que “estar sendo é precondição para ser”, logo estar sempre propondo é uma condição de quem é proposteiro, afinal este, o proposteiro, já percebeu que há uma necessidade urgente de mudança e uma das condições para que a mudança ocorra é propondo, primeiramente.

Entre as maiores dificuldades nos centros de formação e vontades dos professores mais progressistas está formação de estudantes que tenham condições de criticar. De poder por em relevo a própria ciência isto é o que chamamos de capacidade epistemológica. Quiçá necessitamos mais desta construção. De propostas que possam nos mostrar saídas para a construção de uma sociedade mais equânime. De propostas e conseqüentemente, de proposteiros.






















1.     Este texto nasce a partir de uma discussão a denominação de proposteiro foi me denominada devido ao fato de eu ter levantado algumas propostas acerca de alguns assuntos. Isso me fez refletir sobre a necessidade de quem apresente algumas soluções para as dificuldades enfrentadas na sociedade e, que a escola tem grande contribuição na construção de alunos apáticos.

2.     Estudante do curso de letras com espanhol pela Universidade estadual de Feira de Santana – UEFS; está secretário de Agricultura no município de Antonio Cardoso; é professor e militante dos movimentos sociais e populares no Estado da Bahia.

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