1.Ser Romântico não é tarefa para qualquer um
2.Jocivaldo dos Anjos jocinegao@hotmail.com
Qualquer um, em nossa sociedade capitalista e marcada pela divisão velada ou explicita das classes sociais são aquelas pessoas que dispõe de poucos recursos, principalmente financeiros. Geralmente os identificamos por não freqüentar lugares caros, ou até mesmo baratos, pois para a definição de caros e baratos depende muito do referencial. Mas o fato é que o “qualquer um” é facilmente identificado quando se trata de romantismo e de ser romântico.
Partindo-se do pressuposto de que o sentimento é uma essência e, assim sendo o romântico tem um sentimento e que este não tem uma relação intrínseca com as posses de cada um, é muito simples ser romântico em nossa sociedade e poder demonstrar para a pessoa por quem se depreende este “belo” sentimento; mesmo porque não se compra sentimentos nas vitrines.
Na verdade o termo romantismo evoca a Escola Literária do Romantismo, também, e nesta escola literária, dentre outras coisas, se primava pela demonstração de sentimento à pessoa amada através de gestos de carinho que geralmente se limitava à escrita e as questões relacionadas ao corpo e a alma. Porém esta acepção de romantismo parece não estar muito em voga no seio social da atualidade. Parece existir uma fábrica de românticos e para fazer parte da mesma e se qualificar romântico tem que provar que o é, e este provar provém de se dispor de recursos financeiros para referendá-lo como tal.
Conforme a mídia é muitas pessoas que já foram inoculadas por tal relação social, há os dias já pré-definidos no calendário para a grande expressão do romantismo. Ao iniciar o ano, a sua divisão pelos doze meses logo é feita pela indústria, pelo comercio e também os “românticos” já colocam em seus orçamentos, - claro os que têm orçamento para colocar-, os outros despossuídos de orçamentos não terão o direito de durante os trezentos e sessenta e cinco dias do ano ter os dias específicos de expressar o seu romantismo, se for ano bissexto, pior ainda, pois terá um dia a mais para não ser considerado “romântico”.
Logo no mês de fevereiro faz-se necessário expressar uma parte do seu romantismo convidando a pessoa amada, - que necessariamente não precisa ser parceiro (a), afinal de contas amamos os amigos, os pais, as mães a família...- ou para ir em algum lugar do Brasil ou do mundo onde o carnaval é “bom” ou viajar para algum lugar e fugir da folia. Para expressar este tão nobre sentimento é necessário tem uma quantidade de dinheiro que o permita revelar para os seus convidados seu “grande sentimento”. Alias antes desta data, que também pode vir depois estão os aniversários. Quão descortês é para um namorado, para um filho, neto... deixar passar o aniversario da pessoa amada, que só se faz uma vez por ano sem ao menos dar um presentinho! Não presentear é uma atitude não romântica, pois estes aniversariantes não terão algo para lembrar-se daquele (a) parceiro (a), amigo (a) tão próximo que sempre o lembrou em seu aniversário.
Partindo daí temos a páscoa, data inigualável para darmos um belo ovo da páscoa, muito chocolate para relembrar a luta de Jesus Cristo, ô! Se lembrar do grande sentimento que temos pelas pessoas e presenteá-las como grandes, bonitos e não tão “caros” ovos. Depois vem o dia das mães, esta grande guerreira que merece de nós uma grande lembrança, ou no mínimo uma lembrancinha para sacramentar o seu dia, o dia único entre os 365 dias do ano. Que pena tenho das mães que não recebem pelo menos neste dia um presente do filho distante. Alias, não sei se tenho mais pena destas mães ou das mães que só recebem nesta data a lembrança do seu filho e o fruto da educação que o proveu. Pois aquelas que não recebem nenhum presente neste dia, mas, que ver o seu fruto no mundo desempenhando ações humanas, respeitadas, e baseada no seu amor dispensado, estas sim, são muito felizes.
Dia dos namorados é impar, este não se permite passar em branco, no mínimo tem que se passar em rosa. Claro as mulheres principalmente, adoram rosas e também adoram ursinhos de pelúcia rosas, sair ir à uma pizzaria, comer um pouquinho e depois... Hum, depois já não é da nossa conta. Assim com também a relação do casal no restante do ano não é também questão nossa. São poucos dias os que separam, apenas 11 dias, mas em são João se puder dar um casaquinho ao amor para passar o frio quando estivermos distante, é bom né? Já garante o seu aquecimento quando estivermos distantes, pois quem te frio... E até os porcos-espinhos se juntaram conforme a historinha.
Bem, depois de São João, se tiver algum casamento, batizado aniversario, nem se discute uma lembrancinha, mesmo que não nos façamos presentes se faz necessário. Chegando o dia dos pais uma demonstração de amor pelo “velhão” é coisa de filho que o ama, que tem sentimento por ele, logo um presentinho para ficar na memória do “coroa”, pelo reconhecimento de toda uma vida de luta em prol deste crescimento proporcionado. Vem o dia das crianças para nos lembrarmos dos nossos bebês e depois vem à data do nascimento de Cristo, na data da morte presenteamos chocolate, e no nascimento que é o natal o que é que daremos??? Com certezas ficaram algumas datas as quais me passaram, pois tem que ser muito romântico para se lembrar de tudo, e acho que não sou tanto.
O que torna estas pessoas que podem presentear seus entes queridos nestas datas não são o fato de comprarem estes presentes, mas se de fazer a doação dos mesmos, porque é no sentimento deste desapego que se encontra a sua face romântica, mas, confunde-se muito contém com o estar contido, parece que quem não realiza estas ações, pois nem todos podem, já perdem a qualidade de ser romântico.
Ah já ia esquecendo, reveillon tem que se usar roupa branca , já pensou usar roupa negra no dia da virada do ano, da chegada do ano novo. Realmente neo é nada romântico. E quem não tem roupas brancas?
1. Este texto nasce a partir de uma discussão em sala de aula sobre o que é ser romântico e a partir do debate fiz inferências a nossa sociedade podendo perceber o quão distante está a nossa definição atual de romantismo para a que outrora foi propalada e como atrelamos ao máximo a definição da expressão romântica às questões materiais, transparecendo que o romantismo, passa pouco –quando passa- de consumismo.
2. Jocivaldo Bispo da Conceição dos Anjos é estudante do curso de Letras com Espanhol, pela Universidade Estadual de Feira de Santana – UEFS, militante dos Movimentos Sociais e Populares do Estado da Bahia e está Secretário Municipal de Agricultura no município de Antonio Cardoso.
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