1. Outros 500.

2. Jocinegao@hotmail.com

A ascensão de pessoas pobres – que geralmente são negras e negros- a cargos que lhe conferem salários acima da média percebida por seus pares, (seja por concurso, carreira ou cargos políticos), deve ser considerada pela sociedade de forma diferenciada. A diferença deve ser analisada, não pelo valor bruto percebido, mas pelo valor liquido. E esta liquidez deve ser analisada não pelos encargos tributários que são cobrados, mas pelas relações sociais, familiares e de poder de influencia que tem o pobre que ascende e que tem uma pessoa da classe media alta já ascendido que a  própria historia já o confere.

Pobres quando ascendem, eles não têm uma herança material e social que não lhes permitem investir os valores ganhados em negócios ou fazer investimentos mais qualificados em si próprio. Têm estruturas familiares que o “obriga” a ter que ajuda-los; uma vez que são pessoas que tem um recorte social de necessidades tamanhas, de carência material e para alem disso, uma carência espiritual de acreditar em si próprio e em seu potencial. Com isso na quero dizer que seja via de regra, mas tem uma grande experiência histórica de acontecimentos nessa dimensão.

Há mães e pais de pessoas empobrecidas que ascendem que sofrem de problemas de saúde e com isso a necessidade de se fazer exames, comprarem medicamentos... E por isso a necessidade de serem ajudados, como uma obrigação moral e política, mais que a própria necessidade em si. Há irmãos, primos, amigos e outros parentes que também necessitam de serem ajudados. Esta configuração faz com que o valor percebido das pessoas empobrecidas que ascendem sofra quedas em seu real valor.

Pessoas que já são de classe media alta ocupando o mesmo cargo,  geralmente, já possui plano de saúde para a família toda, os parentes também possui uma estabilidade financeira e toda uma configuração que lhe confere utilizar o valor percebido em investimentos pessoais e outras coisas que o conferirá lucratividades futuras.

Analisando a partir desta perspectiva o empobrecido levará mais tempo para conseguir juntar recursos materiais e ascender na vida economicamente, uma vez que a conjuntura lhe é desfavorável. Enquanto as pessoas enriquecidas contam com um favorecimento, que foi também o responsável pelo empobrecimento do dos empobrecidos em muitos casos.

Entretanto, esta correlação de forças pode ser muitíssimo favorável ao empobrecido, uma vez ele tendo a dimensão da conquista histórica que alcançou, não apenas para si, mas para uma classe e uma etnia, que fora historicamente negado os direitos tem. Esta conquista deve ser potencializada até para servir de referência para outros empobrecidos, pois uma das coisas que sempre desmotivou o povo empobrecido pela historia, foi a falta de referência pessoal ocupando cargos de destaque e sendo bem remunerado.

Portanto, há uma grande necessidade de termos pessoas pobres e negras assumindo estes cargos de destaque nestas perspectivas, mas para alem disso, estas pessoas devem ter a dimensão do lugar que ocupa e fazer deste lugar um espaço de resistência, referência e construção histórica e política de uma nova sociedade mais inclusiva.

Deve-se, sim, a cada dia, o empobrecido entender que tem também a responsabilidade de lutar e contribuir com as outras pessoas que ainda não conseguiram ascensão - que são muitas-.

A colaboração com estas pessoas não devem ser no sentido de doações que o torne dependente, mas sim numa dimensão de facilitar estas ascensões. O entendimento da necessidade de elevação de escolaridade é um outro fator a ser evidenciado e acima de qualquer coisa a modéstia e a luta diária para novas conquistas individuais para a elevação coletiva de um povo, que é o povo empobrecido que deve ter direitos conquistados.

.Verifica-se assim que valores percebidos em conjunturas diferentes têm também valores diferentes. São outros 500 a historia deste povo. Utilizar este jargão popular, fazendo-se um trocadilho para demonstrar que o que se ver pode não ser enxerga, mas que é necessário enxergar esta historia com a racionalidade necessária para entender as estratégias que devem ser utilizadas nestes espaços referenciais.

Portanto esta historia deve ser construída tendo a dimensão que se trata de outros 500 e que teremos que dividir estes 500 com outras 500 pessoas que não fazem parte desta história dos “bem posicionados socialmente” . Pois estes outros 500 deve ser diariamente reconstruído e redimensionado na perspectiva da historia de homens e mulheres que necessitam entender e refazer a historia na dimensão de outros 500.

















1. Este texto trata de uma reflexão acerca das relações sociais e de poder que vivencia as pessoas que ascendem em salário na historia recente. É um pouco também do que venho vivenciando ocupando cargo que me confere esta receita destoante do que é percebido pelas pessoas que são meus pares no dia-a-dia.

2. Jocivaldo dos Anjos é jovem de 27 anos, negro,  estudante do curso de Letras com Espanhol, militante dos movimentos sociais e populares e está ocupando o cargo comissionado de Secretario de Agricultura do município de Antonio Cardoso.

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