NÃO QUEREMOS MULHERES PRESIDENTES DE NADA.¹
Jocivaldo dos Anjos²
Discute-se muito entre as “letradas brasileiras” sobre a forma de denominação da presidenta da republica Dilma Rousseff. Afirmam que estão matando a gramática e desrespeitando as leis outrora fomentadas. Como se a língua do povo fosse algo estático.
Circula pela internet um texto abordando a forma “A PRESIDENTA ELEGANTA”. Ademais de ser um desconhecimento das questões linguísticas e do seu percurso até a chegada da língua portuguesa, trata-se de uma deselegância tamanha e de um desrespeito às lutas das mulheres para a incorporação de marcadores de gêneros não só na gramática, mas principalmente na história.
Afirmam até que o Aurélio deve estar remoendo no seu túmulo. Se tiver, paciência. Também Aurélio ( com todo respeito à sua contribuição intelectual para o Brasil) foi homem, branco e ocupante da elite brasileira. Aposto com quem quiser que se uma mulher negra, pobre e nordestina tivesse as possibilidades que Aurélio teve poderia ser tão, ou melhor, do que ele. Mas, deixemos o Aurélio descansar e continuemos.
Numa tentativa horrenda, machista e preconceituosa querem dar aulas de um pseudo-português falado para querer dizer que está errado as pessoas chamarem a Dilma de presidenta. Dando aquelas aulas de gramática torturadora. Dizem: “No português existem os particípios ativos como derivativos verbais. Por exemplo: o particípio ativo do verbo atacar é atacante, de pedir é pedinte, o de cantar é cantante, o de existir é existente, o de mendicar é mendicante. Qual é o particípio ativo do verbo ser? O particípio ativo do verbo ser é ente. Aquele que é: o ente. Aquele que tem entidade”.
Sim, e daí? Estamos tratando justamente de modificar também esta gramática aprisionadora, marcadora territorial dos espaços para homens, brancos e citadinos. Afinal para que serve a epistemologia? Se formos seguir somente seguindo as leis segundo a gramática normativa, teremos sempre as mulheres seguindo os homens e em segundo lugar nas relações sociais de gênero. A gramática tem que mudar para com isso abrirmos caminhos para as possibilidades de mudanças.
É muito cômodo para homens dizerem que é errado a pronuncia, porque isso também garante a manutenção do modus operandi masculino e machista.
Continuam afirmando que :"Assim, quando queremos designar alguém com capacidade para exercer a ação que expressa um verbo, há que se adicionar à raiz verbal os sufixos ante, ente ou inte. Portanto, à pessoa que preside é PRESIDENTE, e não "presidenta", independentemente do sexo que tenha”.
Esta afirmação de “respeito” a lógica da gramática normativa tem uma finalidade: A invisibilização da mulher ainda que esta ocupe espaços que lhe permite a visibilidade. Se hoje não se diz ainda estudanta, adolescenta ardenta etc. então que passamos a dizer se for esta a condição para a inclusão das mulheres. Se a sociedade é dinâmica ela muda, e se ela muda não devemos ter uma gramática estável que somente produz reproduz e incentiva a produção cientifica e intelectual a serviço dos homens.
Esta dificuldade de entendimento da nomenclatura presidenta pode ser explicado pela língua portuguesa por um processo de apropinquação, uma espécie de aproximação. Quando se utiliza este processo para favorecer aos homens não há discussão se é errado, mas quando é para as mulheres, aí já não pode. Assim como as cotas. Por exemplo, até hoje se utiliza soldado e sargento, tanto para o feminino, quanto para o masculino. Então, qual a dificuldade de se utilizar presidenta?
Não me venham com esta de que presidente é comum de dois gêneros, e logo deve representar tanto o masculino quanto o feminino. As palavras devem expor a realidade. Vejamos, presidente é quem tem o ato de presidir, que ocupa a presidência, então por que será então que o comum de dois gêneros não garantiu a ocupação da presidência para os dois gêneros? Sem esta de comum de dois. Para ser comum de dois os dois devem comungar dos espaços, se somente um comunga não é comum de dois e sim comum de um.
Logo afirmo: nas associações, sindicatos, cooperativas, planalto etc. sendo ocupado estes espaços por gente que se respeita e que conhece o mínimo das relações sociais de gênero jamais deve haver uma mulher presidente. Deve haver sempre presidentAs e com a maiúsculo para mostrar que é que está ali agora. Para educar uma sociedade machista que insiste em querer viver deseducada.
1. Jocivaldo dos Anjos é professor e conselheiro estadual de juventude e militante do Partido dos Trabalhadores.
2. Este texto fora escrito com marcadores de gênero no feminino representando o home e a mulher. E tem o sentido de provocar a sociedade também para as questões linguísticas aprisionadoras na sutilidade.
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