Não venham me falar de políticas de combate ao êxodo rural¹

Jocivaldo dos Anjos²

É sabido na historia do Brasil recente que há diversas ações de políticas publicas sendo implementadas no sentido de evitar que os habitantes do meio rural  deixem este espaço geográfico e migrem para as cidades. Estas políticas passaram a acontecer depois de um longo período de incentivo de saída destes habitantes para a construção dos centros urbanos brasileiro.

No entanto acredito ser necessário fazer algumas inferências acerca destas tangencias eufememisticamente denominadas de políticas públicas. Afirmo ser eufemismo não simplesmente no sentido gramatical, mas também e principalmente no sentido político, que é o movimento que deve ser feito para melhorar a vida das pessoas.

Evitar o êxodo rural tem sido uma política no sentido de resolver um problema que é o inchaço nas cidades e das cidades, logo esta resolução não é para resolver um problema do campo, mas um problema da cidade. A cidade criou o problema e solicita em forma de obrigatoriedade que o campo resolva. Neste processo há mais uma vez a negação dos sujeitos campestres. Quando foi necessário a mão de obra para construir se buscou, depois que se utilizou até exaurir forças se descarta e se evita a chegada.

Com isso não quero defender a saída dos sujeitos do campo para as cidades, mas vejamos: Para uma política dar certo acredito ser necessário que se faça para resolver o problema do seu público prioritário e não para resolver problemas de outros. Em vez de falarmos de políticas de combate ao êxodo rural que tal construirmos políticas de potencialização do êxito rural. Pois há muitas riquezas no campo que até então passa longe das “grandes” mentes de alguns teóricos e de muitos políticos.

Aqui não mora um povo que deva ter evitada a sua entrada nas cidades para não ocupar as favelas e com isso contribuir para o aumento da criminalidade e das grandes mazelas sociais citadinas. Aqui é muita mais que esta mesquinhez.
O investimento no campo deve responder as perguntas de um povo que deve ter o mesmo direito que qualquer habitante que viva em qualquer espaço deste país: o direito de ir e vir, principalmente, e se quiser ir e ficar, que vá, se quiser voltar que volte.  A grande questão é que agora não se precisa buscar mais mão de obra barata muito longe, ela está bem próxima. Está nos subúrbios e nas regiões periféricas das cidades.

Se ocorre o êxodo é porque as políticas implementadas até então não lograram êxito e ao que parece elas, de fato, foram pensadas para não serem exitosas mesmo.  Era necessário que o campo desse errado para que a cidade desse certo e assim foi feito, mas agora o feitiço virou contra o feiticeiro. Para confirmar o que afirmo basta ver a quem serviu a maquinização do campo; as primeiras tentativas de reforma agrária; políticas de crédito etc. se não houvesse este movimento de consumo do que a industria produzia que consumiria?

O rural do êxodo deu certo em detrimento do rural do êxito porque era necessário para a “urbanidade” a sua existência. Caso as políticas públicas não dessem certo para que este êxodo e , ao contrario, contribuísse para o êxito rural,  quem construiria as cidades?

Repensar as políticas públicas para  o meio rural é mais urgente e importante do que a formulação de pequenas ações pontuais da tentativa de combate dos sujeitos rurais nos espaços urbanos.

Parece-se um assemelhamento com a política de eugenia que o Brasil já adotou na tentativa absurda do seu embranquecimento para salvar a nação brasileira. Hoje se coloca como atraso do urbano a presença do sujeito rural (que não pode ser objeto) assim como outrora fora a presença do sujeito negro objetivado e sustentado como sujeitos nas lutas quilombolas para além dos quilombos.
Queremos e necessitamos de um rural com gente, mas não é qualquer gente e uma gente tratada de qualquer maneira. Queremos o respeito e a decência para a gente do campo brasileiro. Se esta gente desejar sair para outros lugares que saiam, mas promover a oportunidade do êxito para esta gente é uma obrigação política, pois evitar o êxodo não é dialogar com a vontade das pessoas do campo, mas sim impor a vontade do urbano deste momento. Tomar a decisão é tarefa do sujeito e não de objetos. Façamos as políticas serem exitosas e nosso povo decide se sai ou se fica.



















1. Produzir este texto é uma espécie de chover no molhado. Pois muita gente já defende o respeito às idiossincrasias do campo de forma correta e coerente, é o que chamam de contextualização. Mas nós que vivemos no campo sabemos que a chuva por aqui é pouca, e assim sendo chuva é sempre boa, mesmo que seja no molhado.

2. Jocivaldo Bispo da Conceição dos Anjos é graduado em Letras com Espanhol e suas respectivas literaturas pela Universidade Estadual de feira de Santana – UEFS e pós graduando em Gestão Ambiental pela Faculdade de Tecnologia e Ciências – FTC – Feira de Santana; Conselheiro Estadual de Juventude e Militante político.


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