Nasci para morrer de sete. Morrer de sete, quatorze ou vinte e um... Assim me diziam quando era eu pequeno, ou melhor não me diziam. Nossa sociedade não permite o diálogo com as crianças. Mas resisti. Crescer comendo “chocha” (chocha é café com farinha) é uma resistência. Aliás, quando Euclides da Cunha disse z que “o sertanejo é antes de tudo um forte” é nesta linha, como sobreviver com tantas dificuldades. E, como a saúde e a roça andaram em paralelo, morrer de sete, quatorze ou vinte e um não era lá novidades. Mas não, eu resisti.
Na resistência tiveram que me batizar, para não morrer pagão, e de me darem um nome. O batizar na roça é maior do que o nome. A religião sobrepõe o Estado. Daí, herdando de meu pai a letra J, aliás, na roça se usa –ou usava- a primeira letra do nome do pai para os nomes masculinos e a primeira letra do da mãe, para os femininos. Ah, as mães da roça se assemelham também com Palagueia Nilovna de Gorki... Mas deixemos Gorki por ora. Vamos ao meu nome. Me chamaram e até hoje me chamam e eu a mim também me chamo, e gosto, Jocivaldo Bispo da Conceição dos Anjos, filho de Júlio e irmão de Judival. Por sobrenome me deram Bispo da Conceição dos Anjos. Me deram a tatuagem da herança da escravidão. Não há como negar. Sobrenomes ligados à igreja era para quem não tinha lugar e nem nome, daí... no alto do sentimento cristão e da bondade universal, a igreja dava. Sou herdeiro de pai e de mãe.
Dizer que sou da roça é um marcador. Marcador não somente de origem, mas de lugar também. Nascido, residente e domiciliado desde o nascedouro à Fazenda Limoeiro – hoje tem número, por conta da rede de agua e de luz. - promover políticas ajuda na identidade e identificação das pessoas também- 631, zona rural, Antônio Cardoso – BA. Ah Antônio Cardoso, foi um coronel que obrigou a cidade ao se municipalizar ter o seu nome. Não irei fustigar o mancipum...  Antes era umburanas em homenagem à planta nativa.
Quando menino me diziam: “tô aqui porque cheguei, não digo nada porque não sei” de fato. Só se fala o que se sabe, mas hoje eu posso falar. Eu sei. Ou melhor, sei que pouco sei, e ao saber que é parco o meu saber sinto que preciso de saber mais. Paulo Freire ajudou a me libertar.
Aqui pretendo apreender os clássicos da ciência política e da gestão e disso fazer arma para a disputa do poder social. Lenin também tem relevo ao nos acudir com a teoria da curvatura da vara. Sei que não sei e não tenho o tanto que me permite fazer a vara se curvar. Portanto “eis me aqui, ó meu senhor” Eu e as idiossincrasias que me emprestaram ao longo de minha caminhada e que trago como princípio. Não somente de boa vontade se faz mudanças, mas também de condições para fazê-la.


Jocivaldo Bispo da Conceição dos Anjos

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