SOMOS DE UM SETOR QUE NÃO É O TERCEIRO¹

Jocivaldo dos Anjos²



Como uma fênix o capital tenta sempre nascer de suas cinzas. Troca-se nomenclaturas, conceitos e atitudes até, mas o produto final é sempre o mesmo: Elevação dos lucros de forma exacerbada sem levar em conta questões sociais estruturantes da sociedade.

No início da década de 1990 o Brasil passou por mais um processo implementado pelo capital em terras tupiniquins. Como uma tendência mundial fora ora implementado a ideia do Estado Mínimo, ou seja, o Estado Brasileiro seria algo irrelevante para a inferir no mercado, assim o mercado andaria com pernas próprias como se pudesse viver fora de um estado construtor de leis e responsável pela qualidade de vida das pessoas. Neste bojo houve um processo de desmonte do Estado Nacional dando espaço às privatizações e entrega dos bens públicos nas mãos da iniciativa privada.

Na intenção de dar vazão a “bondade” desta ideia do capital os teóricos defensores do capitalismo criaram a ideia de divisão da sociedade em setores, justamente no sentido de afirmar mais uma vez o papel “crucial” das empresas neste processo. Assim afirmavam os capitalistas que o primeiro setor era represtado pelo Estado, o segundo setor representado pelas empresas (o capital) e ao terceiro setor era destinado o restante de tudo o que sobrava.

Assim criou-se um balaio de gato e o denominou de terceiro setor. Colocou-se junto associações, Organização Não Governamental - ONG, Organização da Sociedade Civil de Interesse Público - OSCIP, fundações, Comunidades Eclesiais de Base – CEBs, Movimento dos Sem Terra – MST, etc... Todo mundo junto, afinal de contas se está tudo junto é mais fácil de não se criar identidade, logo não se cria uma pauta e também, na leitura dos capitalistas a importância deste “terceiro setor” era irrelevante.

Com esta junção descabida nivelou-se por baixo e baratinou muito os movimento ainda em formação de identidade. Ficou assim assombreado o que cada movimento ou entidade era. Ou seja, juntou-se a galinha e a raposa no mesmo espaço. Diante disso algumas entidades mais antenadas reagiu a isso a passou a se conceituar como qualquer outro setor dali para frente (já que não poderia ser nem o primeiro e nem o segundo, mas jamais poderia ser o terceiro).

As ações desenvolvidas pelas entidades dos movimentos sociais e populares comprometidos com a libertação das pessoas tinham por excelência a construção de uma sociedade liberta, igual e participativa, sempre primando pelo caráter político estruturador da emancipação social. Estas ideias sempre foram um paradoxo para os criadores do terceiro setor.

Com esta resistência apresentada por algumas entidades o capital mais uma vez criou a estratégia de, sob a ideia da “bondade”, financiar as entidades. Algumas destas entidades conseguiram ser subversivas e modificar a lógica capitalista, pois ao financiar estas entidades o empresariado tanto deduzia do imposto de renda, quanto ganhava gratuitamente um marketing para a sua empresa.

Muitas destas empresas financiadoras aproveitaram o ensejo para criarem suas fundações. O hiato existente entre as fundações do terceiro setor e os movimentos sociais são bastante latentes: o primeiro trata de massa e o segundo trata de povo. O primeiro é assistencialista, o segundo é libertador, no primeiro há um sabido que diz o que deve ser feito, no segundo há a dialogicidade para a construção de todo o processo.

Logo, o processo de formação para os movimentos sociais não caírem nas armadilhas deve ser uma ação constante no sentido do alerta constante para jamais haver o esquecimento de quem é quem o do que cada um quer.


1. Este texto nasce com o intuito de contribui com os movimentos sociais na construção de sua identidade.
2. Jocivaldo Bispo da Conceição dos Anjos é graduado em Letras com Espanhol e suas respectivas literaturas pela Universidade Estadual de feira de Santana – UEFS e pós graduando em Gestão Ambiental pela Faculdade de Tecnologia e Ciências – FTC – Feira de Santana; Conselheiro Estadual de Juventude, Presidente da União da Associações do Município de Antonio Cardoso – UAMAC  e Militante político.

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