Lave os caminhos da preta, lágrimas


Muita gente chora. Mas, tem gente e tem choros que têm maiores relevâncias para as lágrimas que exalam para exaltar que há espaços para serem molhados, limpos e lavados no trajeto. Gente preta tem sido acostumada a chorar pelo enterro dos corpos pretos,  ainda jovem, ceifados porque há uma necropolítica a orientar um país  que a cada 23 minutos no “cancela um CPF”. Assim dizem alguns, ao deparar ou fomentar a morte de um “mala-suja, que precisa de ser celebrado o grande feito.. Mala-suja não é necessariamente o mala-suja. Mas, se trata do mala suja que suja a terra com a cor. Há muitos malas que nem são malas. São mochilas que andam nas costas dos que apontam para o mala, já sem CPF, e ri como se o corpo estendido no chão fosse a figura de um gol. Disse o poeta em antanho. Mas, perambulei o preâmbulo do texto com este tipo de choro só para explicitar um tipo que aflige. Mas, contrariando as objetividades textuais, este tratará de outro modelo de choro. O possível e o que rio ao ver. Mas, também serve para mostrar e positivar outros vários territórios que seguem as almas pretas nestas terras sonâmbulas.Vejamos...

Vi  uma negona chorar e achei graça. Achei graça pelas lágrimas que estavam a lavar um caminho. A limpar um trajeto. A reposicionar uma geração. A reorientar locais a serem ocupados e a trazer famílias pretas para lugares inimagináveis a certo tempo e ainda com esta mesma semântica para diversas famílias negras. Lágrimas que levam e elevam são bonitas. Achei linda a lágrima de Glecia na formatura ao visualizar a abraçar o pai, a mãe e toda sua família, a lágrima de Lula a se tornar presidente, a lágrima daquela menina, cujo não me lembro o nome, ao ingressar no Programa Primeiro Emprego. E, esta lágrima na negona é linda. Ainda que ela ache que não. Vou explicar...

Se trata daquela lágrima que aperta a mente da gente para querer provar que a gente não pode. E, na vida é assim: quando a gente sente e não tem mais o que buscar de força externa, buscamos dentro da gente. E, quando a gente já não suporta mais somente com a objetividade corporal enfrentar a situação, a lágrima vem para lavar o corpo é limpar o caminho é mostrar que a gente não pode parar. Ninguém fica poderoso chorando. Por isso, o papel dela é o de limpar os caminhos, somente. Né?

Não prepararam a negona para o poder. Ela, e os demais “irmãos de cor”, bem como parentes também, são educados para margear o poder e regozijar-se com este feito. E, quando por algum motivo adentra o poder o estranhamento é uma sombra a demonstrar-lhe diariamente que entrou pela porta errada. Que deve de estar perdida naquele espaço e quer, portanto, precisa de ser reconduzida ou reconduzir-se para onde lhe caiba. Né assim?

Apertaram a negona e vi que… ela sentiu. Sentiu o peso do poder e do que isso representa onde o que garante a estrutura em que os brancos, adultos, velhos, homens e héteros é o seu corpo e seu trabalho. É a sua alma.  Deslocar o corpo para a parte “de cima da tabela” tem um preço. E, precisa-se de pagar. E, paga-se, geralmente, com a companheiras dos espaços fechados: as lágrimas. Tenha-as como companheiras, mas não compartilhem com ninguém. Principalmente com quem luta para promover a negação. Esta gente merece nosso sorriso, ainda que precisemos de buscar na ancestralidade e mirar num longo horizonte. NÃO SE CHORA NA FRENTE DE ESTRANHOS. Jamais! Engole o choro e segue. Sigamos!

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