Os periféricos das mentes

Habitantes da periferia dos nossos pensamentos não ocupam a centralidade em nossa ação diária. Sim.
A parca incapacidade de compreender a dinâmica organizativo das juventudes e o preconceito que alardeia os quefazeres para esta categoria social faz com que muitas pessoas promovam ações de tutelamento, controle e encarceramento de sonhos, vontades e desejos deste público e ainda alardearem que atuam com a perspectiva da inclusão juvenil. Em especial falo sobre os deserdados da terra que são os jovens empobrecidos e com recortes outros que os coloquem na interseccional com as somas dos rejeitos. Pretx, mulher, Lgbtqi+, rural, periférico... são as somas que fazem de alguns jovens ocuparem o lugar da pena, e do medo mais ainda, quando se trata de ações de alguns “bons do mundo”. O medo dos corpos destes superam a ideia de filantropia por estes sonhos.
Neste espectro, em que o medo sempre vem abrindo alas para as ações de “recuperação, reinserção e profilaxia” a ação repressora  ocupa um lugar central. Da mesma forma que os aparelhos ideológicos e repressores do Estado, que Louis Althusser já tratou anteriormente.
Pessoas assim, falam bem, e muito, sobre protagonismo, inserção, participação, políticas públicas e até mesmo em descolonização, mas se esbarra na mente orientada  pelo medo e preconceito. Conviver com este fenótipo não é para qualquer sociedade e nem para qualquer “filantropo”. Principalmente quando se, esta sociedade,  colonizou essa mente que segue estruturada pelo que renega a categoria social juvenil e a trata como mão de obra, massa de manobra e corpo a ser controlado. O que Bourdieu chamou de “Uma palavra, apenas”. Apesar de na América Latina, Mário Margulis afirmar que “A juventude é mais que uma palavra”.
É preciso coragem para acreditar na rapaziada. Para além da boa retórica. Pois, a rapaziada é diversa. A moçada é cheia de sonhos e incertezas. Os todes têm medo de sair à noite, e de dia nem sai. Os roceiros tem vergonha do riso destes “ajudadores” ao abrir a boca, por isso falam pouco... pela vergonha da arrelia. Daí, alguns debates precisam de ser evidenciados ao tratarmos sobre a pedagogia das juventudes de 2019 no Brasil.
Quando falamos em educação, arte e cultura para a juventude urge perguntar: “Por que educar? Para quem educar? Com quem educar? O que ensinar e como ensinar?” Qual é a arte enquanto foi a desta arte toda?
Isso tudo deve vir com uma pitada de uma pergunta maior: O QUE É PODER? O que estamos propondo e fazendo gera poder? Este poder dura quanto tempo? Dura mais do que uma apresentação? Emancipa ou escraviza também? Ou acha-se interessante a escravidão quando o senhor de escravos são os pseudocuidadores? Que cuida mais de dores do que de amores. Tipo a águia e a galinha de Leonardo Boff. Ensina-se a ser galinha e propala que aguais estão criando.
Todas as palavras são desgastadas com o tempo. Protagonismo juvenil é uma delas. Digamos que é uma palavra perifrástica. Porque tem gente que só sabe falar ela em conjunto. Locucionada. Mesmo que nada representa semanticamente. Mas, falam.
Trabalhar com a juventude filha da pobreza, inclusive a pobreza política, que Pedro Demo já tratou requer a coragem de saber que primeiro este povo precisa de comer todos os dias para se manter vivo. Não somente nos momentos de “protagonismo”. Por isso, as ações precisam de ultrapassar o momento das palmas e dos risos. Eles devem se apresentar para si próprios, antes de apresentar para os “bons do mundo”. Precisa de se perceber que entre a saída e a conquista há a caminhada. E, muitos não irão chegar até o final. Muitos namoricaram atentos, mas, mudos. Ou emudecidos. Basta somente ver o tempo que passa para estes corpos tombarem, por diversos motivos. Tem ações que precisam de ser para tempo parco mesmo. Precisam de saber que a cultura que eles vivem precisam de ser respeitada. Mas, respeitar uma cultura não é dialogar sobre outras culturas existentes. Isso é burrice. Porque se a cultura em que vive desse conta da formação de um sujeito holístico para um mundo plural nem estas ações seriam necessárias. Logo, a interculturalidade é necessária. Daí, alguns mais “espevitados e sabedoros” vão perguntar: - mas, e precisam destas ações de intervenção e apoios? Somente quem se locupleta da pobreza, da fome e da morte acha que não. O debate não é a existência ou não das ações. É o modelo das ações. Em Laraia  e Chaui Cultura é um conceito antropológico e homens e mulheres a fazem diariamente. E, ela precisa de uma intencionalidade. Não me venham debater com os esquecidos da terra a falsa autonomia e a neutralidade necessária. Temos lado na vida; em tudo.
Desenvolver ações que tem estes e estas meninas como atuantes somente por terem mais resistência corporal não é fazer política para a juventude e é ser leviano com a ideia de poder.
Hedonismo e catarse dividem este corpo e compete diariamente. Mas, não podemos fazer do hedonismo deles algo que serve para abrilhantar os nossos olhos e nossas lágrimas descerem. A pergunta é: quem deve ficar mais felizes e ter esta felicidade perenizada somos nós ou eles?
Primeiro desperiferizamos estas juventudes desalentadas de nossas mentes. Depois falamos de ações para eles. Porque se a liberdade antes de chegar aos corpos permeiam as mentes. Yeah, juventudes! Sigamos!

Jocivaldo dos Anjos, 23/08/2019

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