Educar não é um ato de amor
O que é isso, professor? Isso é isso mesmo. Isso é a verdade nua, que expõe as vísceras dos corpos esguios e empobrecidos. Filhos de uma estrutura marcada pela escravidão e crua como quem morre moderno e não chega a amadurecer. Enquanto a educação baila como debutante que jamais se torna adulta. Não pode ser amor.
Paulo freire nos informa em seu livro: Professor Sim, tia não, que “É preciso, contudo que esse amor seja, na verdade, um “amor armado”, um amor brigão de quem se afirmar no direito ou no dever de ter o direito de lutar, de denunciar, de anunciar. É essa a forma de amar indispensável ao educador progressista e que precisa de ser aprendida e vivida por nós. Logo, ele fala de um amor real. Um amor que transcende as palavras e ocupa um lugar real no quefazer docente e no cuidado com tudo que cerca.
Educar deve ser um amor compromissado. Não pode ser somente amor por outros motivos também. Ninguém se levanta cedo para ir trabalhar em duas ou três escolas por amor somente. Professores, coordenadores pedagógicos, diretores, porteiros, merendeiras etc. saem de casa por uma questão óbvia: ganham para estar naquele local. E os que ganham somente seus salários, ganham muito pouco. Se ganhar mais do que o que merece ganha menos do que precisa. E do contrário não há inverdade. Recebe um salário que lhe permite sobreviver ou até viver bem profissionalmente. Se fosse somente por amor teríamos no Brasil uma autoeducação e muitas poucas pessoas fariam esta coragem enquanto ato. Se não amar, mas, desenvolver a função com responsabilidade já está em bom tamanho. Mas, não pode usar palavra de tamanho hercúleo para escamotear descompromisso e destituir o profissionalismo e o cuidado mutuo que a função e a carreira encerram.
Esta mistura atabalhoada e agatunada transformando o que é obrigação numa benesse faz mal. Faz muito mal. Amor é algo que se dá por um sentimento bom e bonito pela humanidade. E educação precisa deste sentimento. Mas, como uma veia sanguínea que perpassa o corpo. Não como o cérebro que ordena e o coração que pulsa. A educação que é e deve ser remunerada (não tenho amor por voluntarianismos) não se assemelha (e nem pode se assemelhar) a este sentimento tão somente. O compromisso deve ser a vida de mão dupla. Do lado de quem paga e de quem recebe. Se não for assim não se é política pública. Política pública é uma lei. A lei não tem amor. Tem razão. E, na razão, o que guia o quefazer é o ato racional metrificado e parametrizado. Qualquer outra coisa que se queira equiparar semanticamente ou aproximar os signos se trata de uma maldade no bom sentido. Porque no real é uma charlatanice. Um mau-caratismo. Não se pode se esconder atrás da cortina de fumaça para não expor a realidade.
Governos não podem amar seus servidores se não se compromete e cumpre com uma remuneração viável e possível para um bem-viver. E, servidores não podem também não podem ser remunerados para prestar uma função e buscar o taciturno sentimento com objetivo de esconder o real: o compromisso com a formação de pessoas. Ação para a qual se é remunerado a partir do erário.
O reconhecimento profissional deve ocorrer a partir de uma ação objetiva. No capitalismo, mais objetiva ainda. E seu compromisso reciproco também. A busca exacerbada pelo chamado reconhecimento do labor diário não serve para construir indicadores necessários para a melhoria constante de ambos os lados. O tratamento cordial e cortês se trata de algo ligado à formação das pessoas. Mas, as pessoas não fazem concurso para serem bem tratados a partir de uso de pronomes de tratamentos e afagos. As pessoas fazem concurso e são investidas nos cargos para prestar um serviço e ganhar pelo serviço prestado. É horrendo ver a leviandade de alguns que em busca de “ser visto” maltrata os estudantes e busca culpados pela sua exposição de caráter pusilânime. É preciso racionalizar a educação. A educação é a expressão da razão. Não é à toa que é a ciência que deve orientá-la e não o amor. Logo, sem está de coisa de amor para esconder a razão. Educação é razão. Em sendo amor, é um amor racionalizado.
Jocivaldo dos Anjos

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