No Luto a Luta


É luta no Quilombo Rio dos Macacos. Luta que se expande a outros Quilombos no Estado e no Brasil. É Luto que avermelha todo o povo preto que está sob as diversas formas de expressão do racismo.
A morte de seu Vermelho neste 25 de novembro de 2019 se trata de mais um crime racial. Independe de onde ele venha. Um crime que o caixão se carrega a cada dia e o cortejo fúnebre segue a cada passo. Um crime que não permite a demarcação das terras e o bem viver das pessoas pretas que, após o 13 de maio de 1888 foi relegado ao desprezo. Um crime que as políticas reparatórias iniciou timidamente a reposicionar, mas, de forma ainda incipiente do poro de vista racial e, ainda assim foi tolhido. É crime. E crime é crime.

Urgente se faz a construção de uma narrativa mais audaciosa e ações mais corajosas. Porque quando um morre anuncia a morte do outro. Sabemos que nós pretos e pretas formamos parte das pessoas que estão para o capitalismo como estão as ferramentas enferrujadas para os operários. . Somos os marcados para morrer. Morrer das diversas formas. Ou se morre devagar a cada passo ou se morre de vez à bala ou outros objetos perfurocortantes ou a machadadas. É assim que tem nos matado. E, cada uma das mortes não se desassocia da outra morte. Pois, não pode estar na forma da morte o objeto de investigação para a elucidação do crime; mas, na cor da pele. A pele é preta e a morte é branca.

Assim, nosso povo não se entrega e reposiciona a sintaxe e a semântica. Dessubstantiva e verbaliza o luto. Por mais que as correntes tentam prender a gente vai quebrando. Por mais migrem par um lado as marés, a gente vai remando. Por mais que nos negue a gente vai se reafirmando. Ser preto no Brasil já é correr risco. O risco da cor. A gente corre este risco há mais de 400 anos. Vários de nós tombaram para que outros pudesse se erguer. Sou destes que foi erguido pelo tombo destes companheiros e companheiras.
Portanto, é para mim também um verbo, indissociavelmente, o luto. Em primeira pessoa do presente do indicativo. Na compreensão coletiva de mundo. No entendimento da cor como estruturante. Na cor como princípio de vida. Eu luto.
Sigamos!

Jocivaldo dos Anjos
Brasília, 26 de novembro de 2019

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