O Homem preto exitoso é como edifício na areia
Comparação excêntrica e descabida, Negão! Qual foi? Parece que tá vindo autoajuda por aí... - não. Tá vindo heteroajuda. E que não é ajuda de hétero. Mas, hétero com o valor semântico de ser o diferente. A outra parte. Que não necessariamente é o complemento ou complementa. Mas, falo dela, neste tomo.
Não nego aqui o quanto muitos homens pretos cuidam dos filhos que são homens pretos e fazem eles crescerem na vida. Mas, ainda que este número seja grande não se compara nem de longe ao número de mulheres pretas que fazem isso. E, sem querer romantizar este cuidado, fazem isso, muitas das vezes, como a única alternativa do abandono masculino, que consubstancia o cuidado com aquele ser.
Também não vou ao extremo inexistente em negar que mesmo em relações estáveis a mulher preta carrega o maior piano para a criação dos filhos pretos também. Pois, as relações de afeto com as mães tem sido, historicamente, maior em nossa sociedade. E, numa sociedade estratificada pelo machismo e a heteronormativodade, as conjunturas não suplantam, mas, reafirma esta estrutura.
É por que, Jocivaldo, o comparativo com o o edifico não areia? - vejamos.
A areia tem a maior porosidade entre os solos. Passam águas de forma fácil e qualquer construção e não é indicado pela engenharia para a construção. Pois, a alvenaria não fica bem estruturada. Mas, no capitalismo, para se ter “melhores visões” e a exclusividade, a engenharia se vira, vai lá e faz. O capital desdiz o dito e desafia a natureza. Ainda que esta se renove depois por autonecessidade. Na construção destes edifícios a parte que fica submersa é bem maior do que a parte vista. Ainda que a parte vista a olho nu seja muito grande e estruturada. Assim somos nós, homens negros.
Para a gente chegar há uma mulher preta (mãe) que se desdobrou (e se desdobra na vida) que não aparece, geralmente e não faz questão de aparecer. Mas, que sem a sua alvenaria a gente não existiria.
Não me coloco como estes homens negros a quem chegou ao êxito na vida, ainda. Mas, comparando com o que eu era e o que cheguei a ser, há uma estrada pavimentada grande. Há uma alvenaria feita a cada dia com barro da coragem, água da sapiência e mãos de amor.
É importante os filhos homens pretos conversarem com as mães sobre suas histórias de vida. A de Mainha eu comecei a escrever. (Pois o calejado de sua mão e o analfabetismo da sua grafia me permitiu mãos para usar outros instrumentos de trabalho que não a enxada e poder ler e escrever. Mais do que isso. Contestar epistemolohicamente o lido). Mas, não conclui ainda porque a história é muito dura e esqueci meus óculos escuros numa viagens à Florianópolis... entendem, né?
Conversar com elas nos ensinam como sermos mais homens. E entender o que fica na parte de baixo a sustentar nosso edifício.
Saber das histórias delas é saber de nossas histórias. É saber da gente. É ter identidade. É saber que em cada vitória nossa, elas se regozijam bem mais do que a gente.
Filhos pretos precisam de reconhecer que a cobertura do prédio deve ser, pela lei da vida, das mães.
Jocivaldo dos Anjos
Brasília, 30/01/2020.
Nossa!! Esse foi o melhor texto que já li sobre afetividade, família negra e masculinidade. A carga sensível da sua escrita, demonstra a sofisticação da literatura preta visceral. Escrevivência...♥️
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