Matamos mais umas...
Todos os dias matamos 12. É uma hecatombe. Uma tragédia social. Um forma de vida asquerosa. Mas, que a gente vai seguindo o baile com flores. Flores, choros e campas.
A ideia do sexismo e do patriarcalismo é mais do que uma ideia. Ultrapassa pressupostos teóricos e toma formas de todas as formas para subjugar as mulheres somente pelo seu sexo. E tem mais: - numa das intersecções as pretas alcança um degrau de maior subjugação e desumanização dos seus corpos. E, no imperialismo desta conta está a terceira intersecção: a de classe. (Não adentro aos debates urgentes também, de gênero).
Mulheres pretas e empobrecidas sofrem falta de representatividades no esteio do poder no Brasil, por, pelo menos três suposições de representatividades. Homens negros, via de regra, não representam sua cor porque se utilizam do fato de ser macho para dominá-las e “ter em quem mandar”. Mulheres brancas, por seu turno, representam a luta de inclusão das mulheres sem levar em conta a divisão de classes, que seleciona não somente quem deve falar em nome das mulheres todas, mas também seleciona os pretos mais “selecionados “ pelo capitalismo para serem seus “amores”. Há ainda outra possibilidade de uso dos corpos das mulheres pretas e pobres. As pares. Mulheres pretas também. Mas, não pobres. É que, algumas ainda, promovem debates sobre gênero, elaboram, mas, não saem “do lugar do conforto” que são os bancos das academias. E, por não sair, o diálogo com a pobreza não chega porque o linguajar e o local de sua existência tem pouca relevância.
Logicamente que em todas estas três possibilidades de “representação social” das pretas pobres possuem gente muito comprometidas com a vida destas. Mas, não são elas e nem é a regra. Porque, muita coisa está fora da ordem. Muito fora da ordem.
O aumento do encarceramento feminino é marca do homem preto que não se desgarra do patriarcalismo para expor as mulheres pretas. Lógico que isso faz parte também da questão racial e classista. Mas, as de mais de baixo parece ter a função de carregar o peso que os de cima vão depositando. Bem como a mortandade de mulheres negras também possuem sua intrínseca relação patriarcal dos homens pretos.
A enfática defesa dos direitos das mulheres (como um todo é um único corpo) tem sua linha de corte estabelecida nas relações trabalhistas em que as mulheres pretas são, por vezes, (e muitas vezes), mal pagas em seus trabalhos, mesmo tendo como patroa uma mulher.
O terceiro ponto, que devemos reconhecer, positivar, respeitar e valorizar são os das mulheres pretas intelectuais, que já não ocupam mais o espaço da pobreza em sua pior expressão social. Estes debates são de importância ímpar. Mas, se não desce para a vida real das que mais sofrem servem somente para os grupos que conseguem adentrar pelo funil da academia. Sem desvalorização desta geande conquista. Mas, numa sociedade tão estratificada pelas distintas intersecções que o Brasil apresenta, precisamos da reflexão, ação e reflexão posterior.
O debate precisa de ocorrer em todos os cantos. Nos mais espinhosos, incluisive. Inclusive não. Principalmente.
Temos de tocar onde possa doer. Porque a dor faz sentir. E ao sentir pode se tomar posições.
E a coragem de saber o que se tem e o que se é que se consegue observar o que não se tem e o que não se é.
Que tenhamos a coragem suficiente. Sigamos!
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