Terras amiudadas

Terras amiudadas são aquelas que se tornam menores pelas perdas. Perdas de gentes, de animais “humanizados” pelas relações estabelecidas, pelo pouco ou falta de carinho e afeto... terras das solidão.
Estas terras, quando a visitamos, sentimos-no incompletos também. Pois, é no encontro do chegado e a energia emanada pela terra que se provoca o encontro. Quando a terra visitada não está em sua plenitude o visitante também se incompleta.
Há cantos que completam o que procura o visitante, mas também há silêncio, quando procurado. Há árvores que completa o visitante, mas também há deserto. Há cantos, há músicas... há, acima das outras idiossincrasias da terra, os sonhos. Nas terras em que não sonham e são sonhadas, os visitantes desprovidos deles não formam um encontro que sai cheiro. Cheiro de terra e de gente. Porque o cheiro e sonho aumentam o tamanho da terra; e do viajante também.
Tem terras que ficam quase arrasada. Terras que perdem a capacidade de tocar as línguas nos dentes. Há terras que não tem dentes. E terras que tem medo de sonhar com dentes também. Terras que precisam de cultivo para se desapequenar. Mas, também há visitantes que que descuida. Da terra e de si, por conseguinte. Terras mal cultivadas não cativam visitantes e visitantes mal cuidadores não são bem-vindos à estas terras.
Amiudar as terras não deve ser um labor prazeroso para o visitante. Bem como, o desencontro da procura do cheiro da terra não deve de ser uma tarefa fácil para o visitante. Mas, é bem possível estas ocorrências. Aliás, são recorrentes estas ocorrências. E, quando a terra e o visitante não se aproxima do que forma sonhos compartidos há necessariamente o afastamento. Terras e visitantes destoantes não brotam o que não deixa a terra amiudar-se.
Terras e visitantes são encontros. São reciprocidades nos cuidados. São grãos plantados que, se regados, brotarão. Terras sem visitantes não conseguem brotar.
Terras amiudadas são as cuja estação não muda, cujo o movimento de rotação e translação não ocorrem. São terras enterradas. Amiudar as terras é também, por tabela amiudar o visitante. E do contrário, não é mentira. Pois, uma terra dialoga com a outra em segredos que somente elas entendem. Se ligam pelos fios porosos de cada grão, que o mundo nomeia de diversas formas.
Amiudar terras e amiudar gentes. Amiudar gentes é amiudar terras. Com os dois amiudados amiúda-se a vida. E pela vida não emudecida e pela terra engrandecida que a gente segue. Sigamos!

Jocivaldo dos Anjos
26/02/2020

Comentários

  1. O corpo território leva e traz o que para alguns é axé e para outros pode ser cosmos. As corpografias erroneas...

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  2. Acabo de eleger o melhor texto até aqui embora a sua escrita bonita, sofisticada e orgânica, atravesse qualquer rascunho. Não sei até que ponto erro ao chamar de decolonial. Pq identificarmos a colonialidade da natureza ajuda a descolonizar o ser. Muito bom.

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