A pedagogia da competição como um princípio de derrota e seus impactos na gestão pública
Quem compete mais ajuda menos. Quando falo em competir me refiro ao sentido estreito de competição. Imagino as pessoas imersas no capitalismo, que aprendeu que o mais importante não é o seu jardim ter flores frondosas, mas, que, independentemente de o seu jardim está muito bom ou não, não é este o seu parâmetro de avaliação da beleza de suas flores. Mas, o seu critério de avaliação são as flores do vizinho. O cuidado com o jardim passa, necessariamente, pela observação diária de como o jardim alheio está. Aí reside a pequenez da humanidade. O que há de pior em contribuição para a construção de um mundo mais harmônico e justo. Ao se tratar de justo me lembro do diálogo entre Sócrates e Polemarco ao descortinar o sentido de justiça. Os que têm a competição como princípio e afirmam estar indo ao caminho da justiça, indico a leitura. Está no Livro a República de Platão. Pois, diz o sábio, o que me é bom e justo, não necessariamente é bom e justo. É o que é bom e justo pra mim.
Sobre derrota eu me expresso sobre o que significa ser vencedor na vida. Quem são as pessoas que se sentem completas? Por que elas se sentem completas? A partir de onde elas visualizam o universo para sentirem-se completas? Heranças ou conquistas? Retorno ao grego novamente para a explicitação de o segundo ser mais contencioso do que o primeiro em relação à valorização. O segundo as vezes tem mais necessidade de proteção valorativa o que posso dizer que se parece com o que a semântica me orienta a denominar de medo. Pois bem.
Nós, formados nas universidades weberianas, cheios de orgulho por ter furado as bolhas da segregação e das assimetrias corremos o risco da defesa da “neutralidade axiológica” e defender que a ciência é o lugar dos iluminados. Em outras palavras é: “ entrei. Fecha a porta.” É assim, reproduz-se o que o maior pensador brasileiro da sociedade disse: “a escola pode estar ensinando o oprimido a ser opressor”. Está ainda, Freire.
A partir destes ensinamentos as pessoas aprendem nas universidades e vão fazer gestão pública. Nestes espaços confundem, via de regra, (mesmo porque a universidade não ensina princípios e valores universais). Parece paradoxo. Mas, não é. Porque se assim fosse teríamos um mundo diferente. Aliás, quem falou isso foi Bourdieu bem antes do quilombola aqui nescer os dentes. Os que universalizam valores, o faz, em resistência e enfrentamento à própria universidade. Não falo dos bons técnicos e gênios da linhagem que a universidade produz, falo do sentido desta produção para a construção do universo. Do seu uso e não somente da sua produção. E quem faz este uso.Alias, já dizia o velho Aristotéles sobre isso. Mas, citar os gregos não faz de um texto melhor e nem mais democrático. O faz reflexivo e nos aponta que podemos usar o caráter opressor da “educação ocidental” para usando e falando deles demonstrar também, pelas análises dos discursos, que os franceses foram maiores , podemos discutir a episteme. Papo pra outra hora. A ideia aqui é a competição. Vejamos.
Os gestores que competem com seus pares quem faz o melhor projeto, melhor trabalho, quem agrada mais o seu chefe, tem onde o indicador de resultado? Para quem eles trabalham e o que desejam se não o conceito de justiça de Platão. Independe de a sua proposição chegar ao seu destino, que é o povo. O seu conceito esta estreitamente ligado à sua satisfação pessoal e a dos seus. Independe se os seus sejam pessoas íntegras ou não. Honestas ou não. Porque a competição deveria ser para a superação das mazelas assimétricas que a a sociedade criou. Mas, não. Se centra no aparecimento de “sua ação”, que não deveria ser sua porque já é remunerada, bem remunerada às vezes, positivadas pelo Art. 37 da Constituição Federal, mas, o princípio da disputa baixa, baseada no bajulismo pessoal e na perseguição gratuita, orienta que o destino da política pública não é quem paga imposto embutido no Brasil e afere a sobra das políticas públicas: pessoas empobrecidas e negras.
Que a universidade prepara mal já se é sabido. Que a sociedade capitalista é assimétrica já é sabido. Que quem está na gestão pública deveria estar para contribuir com a diminuição destas assimetrias, precisa de ser sabido. Que o indicador das políticas públicas precisa de ser o povo mais necessitado na “Res-pública” precisa de ser sabido. É que a competição precisa de ser sobre modelos de sociedade e epistemologias orientadoras precisa de ser sabido mais ainda.
O povo não paga gestores para competirem suas justiças. Pagam para resolverem as injustiças que o sistema criou e criam diariamente. Resolvamos e sejamos grandes. Sigamos!
Jocivaldo dos Anjos
31/03/2020
Comentários
Postar um comentário