QUEM SÃO OS VELHOS QUE O CORONA VÍRUS PODE MATAR?
Quase mil mortes num só dia na Itália. - É Joci, mas eram todos velhos, né? – tenho escutado recorrentemente esta frase de pessoas que justificam a produtividade e o afrouxamento das medidas da quarentena. Dizem que precisam de liberar para o povo poder “produzir” e, assim, voltarmos à normalidade. Eles que têm de ficar em casa. Pois, grupo de risco são eles. Então, “eles que lutem”.
Acostumamos a abandonar gente velha. Alias, nós, que pudemos estudar e conhecer a cidade, morar e desfrutar das políticas públicas que ela tem (não é meu caso, necessariamente, mas, sou tributário disso, não nego. Só moro na cidade por necessidade. Nada contra! Mas, a favor da minha roça) somente aqui estamos porque uma geração de idosos, de hoje, deixaram de comprar roupas e até comida ou objetos de higiene para permitir que a gente pudesse andar. Tipo: nos deram suas pernas para podermos correr. Deram-se o analfabetismo pelo nosso poliglotismo e, hoje, o que a gente apresenta para eles: “é, mas são velhos”.
Pergunto: quando falamos que velhos podem morrer estamos falando de quais velhos? Os meus? Os seus? Os dos outros? Quem são os velhos que podem morrer? Os que não podem viver afastados porque sobrevivem em casebres e ainda são o “arrimo” da casa com suas aposentadorias? Os que podem morrer são os que a gente amedronta as criancinhas dizendo que se ela não obedecer iremos mandar o velho pegar? Quem são os velhos descartáveis? Onde eles e elas moram? Qual a cor de suas peles e suas heranças? Qual o sobrenome deles? Qual a “parentagem” destes velhos que merecem carreatas libertadoras das foices que devem permitir a dona morte ceifar-lhes as vidas? Quem são? Isso tem nome: chamamos, mesmo sem muita gente compreender o conceito e aplicação, quando muito, os efeitos, de capitalismo. E, entendamos: não há capitalismo pujante sem racismo e escravismo. Se alguém duvida, cabe estudar. Os livros existem para algo maior do que enfeitar prateleiras. A produtividade é um princípio do sistema, não um sintoma ou uma conjuntura. Isso é o que lhe estrutura e permite ser pujante.
Não são 30 milhões de velhos descartáveis que o Corona Vírus pode levar. É uma parte deles, cuja a interseccionalidade e a necropolitica permite que sejam mortos e ir beijar os pés de São Pedro. Pois, muitos velhos não serão expostos jamais ao risco de... risco de ser velho e ficar expostos aos que foram trabalhar nas ruas e voltou pra casa com o vírus. Muitos velhos são protegidos pelo isolamento. Podem pagar por isso. Mas, ser velho empobrecido no Brasil é um risco. Risco tão grande que não perite a constituição de políticas públicas que não seja reativa ou somente ligadas à saúde. Parece não haver vida para a velhice empobrecida no Brasil. E agora se avizinha a denuncia do merecimento da morte. Tá puxado!
Jocivaldo dos Anjos
28/03/2020
- "Disse tudo amado mestre", como diria o personagem da escolinha do professor Raimundo. Me emociono em lê tuas palavras, e em vê o qto se menospreza os idosos. Me emociono em lembrar dos meus, que também me deixa triste em não poder ficar perto deles lá "em nossa roça". Temos que repudiar veementemente essa necropolítica do capitalismo. E lembrar cada palavra tua, lembrar do que foi cada idoso, não para o governo ou não necessariamente para a história geral mas o q foi cada um para história dos seus, o q os meus idosos fizeram pra eu chegar onde cheguei, e os teus, e os deles... E os dos outros... tenho dito, não importa se morre um ou milhares, os meus eu não quero q morra, e os teus, e os dos outros... Não resta dúvida a importância da economia mas entre o emprego e seu ente querido, alguém escolhe o emprego?
ResponderExcluirParabéns pelas palavras dita!!
Pois é, meu irmão. Que dureza a gente é educado pra ter. Abandona-se pela vida que eles nos deram. Depois, agora trata-se como se eles fossem desprezíveis. E quando se fala que vai morrer muito, se escuta, mas, foi idoso. Então, porque é idoso pode. E quem são os idosos? É duro. Saber que eles e elas fizeram de tudo pra a gente ser gente. E agora escutar uns moleques (no sentido mais político do termo) tratá-los como coisa menor. Nojento isso! Mas, sigamos! Vc é minha referência em amor e vida. Me dirige! Tmj!
ExcluirJo, você sempre vem com ensinamentos e reflexões muito ricas! Te admiro muito e agradeço. Abração virtual por hora, mas vamos celebrar com certeza no futuro, tudo que merecemos! Agora é agir e rezar para um mundo melhor!
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