Velho não é criança e ordens não resolvem
Você pode estar matando querendo proteger. (Entre a cura e o veneno a única difere é a dosagem). Tenho visto nos grupos de aplicativos de mensagens muitos vídeos sobre velhos com o tema: “fique em casa”. Estas mensagens às vezes vem com conteúdos jocosos em que tem sirene de polícias e velhos correndo para dentro de casa com medo. É isso tem provocado histerias de risos coletivos como se o sofrimento alheio, que deveria ser de todo mundo, fosse risível. Gente, menos, por favor!
Já não basta os idosos verem nas TVs os caixões em caminhões saindo na Itália? Já não basta o medo de morrer - que todo mundo tem- eles mais, por conta da imunidade baixa? Já não basta muitos deles se sentirem um “encosto” na família é um peso? Já não basta o abandono do Estado brasileiro em não possuir políticas efetivas para eles? Já não basta o abandono familiar, em muitos casos, para com os idosos brasileiros? Parece que não. É tipo... “além da queda, o coice”.
Parece que a sanha de matar por falta de carinho, afeto e compreensão à quem a idade já aproxima da morte, as doenças corriqueiras e agora, a crise e o medo do Corona Vírus é maior do que a própria doença. Aliás, é uma doença maior. Nada é pior do que a falta de empatia. Porque a falta de empatia tira da gente e leitura do outro enquanto sujeito é dotado de todas as potências e fraquezas que os sujeitos tem. A falta de empatia desumaniza o outro. É que estamos fazendo ao replicar vídeos assim. Estamos tirando dos velhos o status de humano.
Ainda ontem, quando critiquei num grupo um vídeo destes vídeo, houve a justificativa que... “foi somente uma replicação. Este cara aí que fez é um comediante”. Comediante que desdenha das condições objetivas e subjetivas das pessoas? Que brincam com os sentimentos alheios de forma tão sórdida? Que ajuda a matar ontem quem ainda pode viver até amanhã? Isso não. Isso não cabe no ordenamento do amor. Isso não cabe em quem se respeita. Isso não cabe em quem quer ajudar.
Aprendamos que o medo não educa. O que educa são os ensinamentos repassado e apreendidos em trocas dialógicas e dialéticas entre sujeitos humanos.
Dizem: Ah! Mas, velhos são teimosos. Não querem obedecer e ficam se expondo... ok! Nós que somos jovens e adultos, não estando nos grupos de riscos e tendo um mundo pensando para a gente viver e usufruir (porque o mundo nosso não é pensando para idosos vivenciarem os prazeres de serem idosos. A não ser que seja idoso rico e descolado) não estamos conseguindo dialogar bem com o ineditismo da situação. Imaginem os idosos? Pensem em quem já ingerem diariamente “uma carreta” de medicamentos para sobreviver, onde vai o valor recebido da aposentadoria quase todo, e agora, nem sequer poder ir aferir a pressão? Pensem! Imaginem se fosse você, que compartilha “vídeos engraçados” se isso teria graça para você. Se tem, ria.
O momento é tenso, mas, o bom senso precisa de prevalecer. Falta de abraço não significa falta de carinho, afeto e amor. E, medidas restritivas de circulação, não significa espalhar o pânico e tocar o terror nos idosos. Jamais!
Podemos fazer ligações e chamadas de vídeos se tivermos longe. Se tivermos perto podemos aprender muito com as histórias deles é delas. Escutar. Acalmar. Acolher.
Velhos não são crianças e ordens não resolvem. Aprendamos e Sigamos!
Jocivaldo dos Anjos
30/03/2020
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