ESTÁ COM SAUDADE, NÃO É, MINHA FILHA?
Saudade, em solidão, é uma palavra portuguesa. Mas, pandemia é coisa de todo o mundo. Num momento em que estamos dialogando sobre o que ofertar para a rede de educação em todo o mundo, possibilidades de educação não presencial uma condição, como éter, nos foge das mãos: a saudade. São 850 milhões de estudantes com saudades em todo o mundo.
Aquele segredo que somente o melhor amigo e a melhor amiga sabem, fica guardado. Guardado não. Acumulado. Acumulado para ser contado sabe lá Deus, quando. Porque a gente não sabe como se tem tanto assunto. Mas, cada dia se tem um segredo diferente para contar. E, muitos deles fazem diários com estes “segredos”. E, são segredos que não tem o mesmo sabor de ver o brilho do amigo e da amiga contente por saber. O pegar na mão forte, o abraço, o consolo... e a felicitação em conjunto. Não ver a cumplicidade em cada olhar e suas trocas não é algo bom. Não sentir a mão gelada pela nota baixa e pelo medo de declarar o primeiro amor tira boa parta da formação humanística do adolescente ou jovem aprendiz da vida. Educação é mais do que conteúdo “curricularizado”.
E aquela paixãozinha de adolescente? Paixãozinha não. Paixãozona. Aquela que marca para a vida toda. Que carrega a gente até a escola, ainda que não queiramos estudar e que a gente carrega consigo durante a vida toda. Ah! Ela também fica para outra hora. Sim, mas, que horas?
Entender a educação somente como conteúdos ofertados e relação professor x aluno é descompreender a educação. Não é somente não compreender. Ela se faz com todos estes afetos, sentidos, amores e paixões. Muita gente (inclusive eu fui assim) se torna melhores estudantes para se aparecer e conquistar a gatinha que se tem uma queda. Isso também faz parte de um currículo que emerge ainda que alguns curricularizadoes não percebam ou teimam em não perceber. E o que fazer com as saudades agora?
O que fazer com a saudades se pais e mães estão mais empobrecidos e não conseguem mais colocar crédito nos celulares mesmo que seja para um namoro virtual? Ah! Muitos amores da escola também não possuem celulares. O que fazer para permitir que o segredo contado diariamente seja transmitido quando a possibilidade de transmissão da fala é impedida pela incapacidade de dinheiro para colocar crédito no celular? Não é só merenda e nem conteúdo.
Tenho escutado estudantes nestes dias. Muitos. Tenho estabelecido bons e grandes diálogos. Sobre conteúdos, políticas públicas, projetos específicos, alimentação. Para tudo eu arrumo uma resposta. Pois, elas existem, de fato. Mas, e para a saudade, minha filha? Aí, me desafia. Desafia mais é que a disparidade social aumenta a saudade porque o bem-querer foge da tela por falta de R$ 10,00 para colocar de crédito no celular. Educação, amor e existência também são materiais.
Ah, se desta pandemia emergir um currículo com mais cara de gente. Com mais sentimentos nele. Com mais estudantes e todas as suas idiossincrasias nele. E, com uma pitada do sentido de saudade para dar sentido real. E o que é currículo professor? É o que o estudante aprende e faz com todas as suas derivações. Não me perdoem pela síntese. O que deve ser amplo é o amor, não a saudades e as explicações.
Saudades e sigamos!
Jocivaldo dos Anjos
29/04/2020

Lindo lindo...
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