POR CAUSA DE UM, TODO SOFREM. O QUE RESERVA ESTA FRASE?
Esta se trata de uma das frases mais entoadas e escutadas em solos tupiniquins desde antanho. Foi assim com a colonização quando Portugal chegou aqui e “não compreenderam” a diversidade aborígine. Logo após, não foi dessemelhante para com a escravização do povo vindo de África, esta serviu para “colocar os negros em seus lugares” a partir de uma “educação de massa”. - Querem uma materialização desta frase mais fiel do o açoite nos Pelouros? Espancamento e mortes ao ar livre e às vistas dos parentes, amigos e demais pretos para saber que “por causa de um, todos sofrem? ”. Pois bem, é de sangue. De muito sangue que é feita a nossa história. E, saibam, o sangue educa. Não necessariamente para o bem. (Na maioria das vezes não tem sido). Mas, educa.
Esta frase atravessou os tempos para demonstrar que num país marcado pela escravização não existe outra forma de interpretação dele e de proposição de políticas para ele que não seja advinda deste presente passado sombrio. Porque a interpretação da sociedade é o que gera a ação para ela. Somente basta observarmos o que temos gerado de ações para o país. Especialmente nos processos educacionais. O mundo não é sem a gente. Logo, se isso produz a hegemonia, toda e qualquer alternativa precisa de ser contra-hegemônica.
A educação pode ser portadora do condão libertador, mas também pode ser, e tem sido muitas vezes, a corrente que aprisiona os pensamentos e, por conseguinte, pessoas. Isso, logicamente, a partir da forma com a que se interpreta a sociedade: a chamada epistemologia. Qual estudante brasileiro, especialmente da rede pública, não escutou esta famosa frase ainda? E por que eles escutam esta frase? O que significa esta escuta? Que tipo de educação se promove ao se falar esta e ao negar outra, do tipo: “ deve-se punir quem erra, pois quem erra é um sujeito e não a sua coletividade”. E qual o conceito de erro e quem o conceitua? Por que uma coisa é erro e a outra, não é? Poderíamos observar também por uma vertente mais progressista e positivada pela constituição federal: o tratamento do erro e não o excomungar do errado. Mas, não. Materializa-se o “andou com porcos, farelo come”. E segue-se.
O punitivíssimo faz parte da nossa lato educação brasileira. Os estudantes brasileiros, especialmente das escolas públicas, via de regra, são educados a saber que “por causa de um, todos sofrem”. E, além de serem bons estudantes também tem em si a carga de cuidar para que os seus semelhantes jamais errem porque se um errar, todos sofrem. Logo, se reedita, pelo famoso currículo oculto, os pelourinhos nas escolas públicas brasileiras. E educação pelo medo. Este modelo de ensinamento ultrapassa as fronteiras da escola e tomam a vida. Qualquer pessoa que trabalha com públicos grandes sabe que as orientações de todos os lados e, inclusive dos alunos, para se tratar do diálogo e do controle com os grupos, parte da ideia de punição. Da não permissão a possibilidade do erro.
Vivenciando grupos de WhatsApp diversos, eu tenho escutado de alunos, professores, diretores, colegas etc. que, nós administradores, devemos silenciar os grupos para os demais e somente a gente fazer a publicação. Eu, particularmente, tenho rejeição ao modelo da educação pelo silencio e da não integração. Logico que a epistemologia de alguns perguntará se em grupos de WhatsApp se faz educação. Responderei: - estude sobre educação libertadora e onde ela deve ocorrer. Mas, esta é outra quadra de debate.
O pedido de silenciamento, se tornou algo tão natural que as pessoas já pedem logo de partida. O nome famoso de discordância de modelos e métodos em moda hoje é o cancelamento. O principal argumento para o silenciamento é: “ muitas conversas desnecessárias”. Bem, o que é necessário ao outro a gente é quem decide? Outra coisa: se as pessoas produzem conteúdos desnecessários nos cabe informá-los sobre isso e possibilitar para eles conteúdos necessários. E, se houver a transgressão, pune-se o transgressor. Na educação, bem como na vida, a punição deve ter um papel pedagógico. Ou então se faz desnecessário tanto a punição quanto a educação. Pois, a crença no outro é um princípio balizador educacional.
Silenciar não é, nunca foi e jamais será, um modelo de educação testado e aprovado pela ciência com resultados positivos para os sujeitos silenciados. Este modelo serve para outras pessoas. Serve para os que silenciam. Desta forma, a promoção de educação se dá para garantir que o promotor da educação seja o principal receptor do resultado da prática pedagógica implementada. Se estamos educando alguém é porque este alguém requer cuidados. Se “já fossem educados” não precisariam estar passando por este processo e, punir a coletividade em nome da educação pelo medo é a reedição de uma sociedade que ainda não conseguiu sacar da mente a escravidão e todas as vezes que puder, vai reeditá-la para ensinar aos demais que o exemplo está ao seu lado. O mau exemplo, no caso.
Portanto, não é que por causa de um, todos sofrem. Mas, por causa de uma má formação todos sofrem. Porque se reedita o mal maior e ensina os punidos a serem punitivistas também. Não esqueçamos que uma geração é filha das suas antecessoras. O problema está na raiz, que causa, não nos efeitos que aparecem. Cuidemos das causas. Sigamos!
Jocivaldo dos Anjos
19 de abril de 2020

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