A estranha mania de contar mortos

E de repente virou o tempo. Disse o poeta ruivo que embala meus amores e sonhos, em sua canção Rock And Roll. Só que desta vez o tempo virou demais. No tempo do poeta a gente poderia convencer as gentes que se parecem inconvenciveis de que sua posição estava errada. Mas, nestes tempos temos um tempo a ser mudado que desafia a Metamorfose. Mesmo que ambulantes. Aliás, a música mais usada pelo poeta da Metamorfose Ambulante é outra. A que trata do Dia em que a Terra Parou. Mas, não parou. Não, senhores, a terra não parou.
Diariamente ela está sendo movida, removida e alimentada. As vermes que habitam em seu subsolo tem de empanturrado de alimentos. Brás Cubas agradeceu aos vermes que haviam comido suas carnes em suas Memórias Póstumas. Então, que agradecemos os de agora e desejemos que não precisem de chá de boldo por tanto alimento.
A estranha mania de ter fé na vida tem perdido espaço para a estranha mania de não ter fé. Um pitada salobra de nietzsche na vida dos crentes. Não tá fácil.
Não tá sendo um dom. Nem uma poesia. Esta sendo dor, Elis.
Dor que vem da invisibilidade assustadora. O invisível que faz a terra ser removida diariamente e a gente projeta números da semana que vem dizendo: tal dia morrerá mil. E, ainda assim temos de fazer a vida seguir. A vida de quem fica e de quem deve ficar nas lembranças dos que tem vida ainda. Esta deve ser a estranha mania que a poetisa falava também.
Enterrar tanta gente assim tem chocado até coveiros. Coveiro chorar parece algo meio por fora, né? Mas, tem chorado. E chorado muito. E ainda, com medo de também ser infectado neste momento de último pouso terrestre de corpos que chegam com somente cinco acompanhantes.
Profissionais que cuidam da vida tem aprofundado também na matemática de quantos leitos ficarão livres com despedidas futuras. Também expostos, sentindo e indo. Tem ido alguns da saúde que tratam sobre... sobre vida.
E... senhores, contar morto depois de morto já não é algo bem interessante. Mas, contar mortos que estão ainda vivos é um descompasso que temos de ajustar. Não há alternativa.
E em meio a dor, sem andor, há quem ainda diz que... vai morrer mesmo.
Números não aterroriza. O que aterroriza são os nomes. Está chegando os nomes em diversos lares. Diversos.
Gente, não é pedir demais: #FiqueEmCasa. Se sair saia de máscara. Porque a terra fica pesada tendo de suportar tanto peso. Peso de gentes que poderia... poderia... e não pode mais.
E... de repetente da vida faz-se pranto... do amigo próximo o distante... de repente. Não mais de de repente. Tá fácil, não, Vinícius. Prefiro o da fidelidade. Ele fala mais da vida. Eterno enquanto dure.
Cuidemos!

Jocivaldo dos Anjos
15/05/2020

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Servidor público não tem de ter empatia

Gel é a grande vencedora das eleições 2020 em Antônio Cardoso