O PT E A AUTOCRÍTICA


O PT precisa de fazer a autocritica. Assim ouvia-se, como um mantra, por todos os grandes veículos de uma mídia que sempre teve lado (que jamais foi o de incluir os mais empobrecidos) e por muita gente de uma esquerda sem alvenaria ou esteio. Por conta desta tal autocritica muitos tornaram-se ex-petistas, criaram partidos novos, rememoraram a esquerda europeia da primeira década do século XX, colocaram-se contra o Walfare State e enclausuraram-se num mundo ideal. Mais ideal ainda para palanque e discurso. A grande mídia adorou e continuou mais fortalecida ainda. Isso não dirime os descaminhos que parte de petistas e sua cúpula do poder central tomava.
A grande mídia continuou colocando a lupa na tal autocritica que o PT não fazia e criou-se logo denominações aos integrantes e simpatizantes do Partido dos Trabalhadores. Foi petralha, pão com mortadela, esquerdopata e outros. Não esqueçamos quem começou com estas ofensas todas ao PT. Desta forma os grandes centros urbanos nacionais iam, a cada minuto, construindo um ódio contra o PT sem uma explicação lógica. Mas, que no campo simbólico estava dando muito certo. Falar mal do PT era a lógica. Ilógica as vezes, mas, lógica na guerra de movimento, para rememorar o velho Gramsci, instalada no Brasil. As pessoas passaram a odiar o PT porque tornou-se moda o ódio ao PT. Não precisava de motivos. O ódio era o próprio motivo.
O PT, por sua vez, ficou na retaguarda e, de fato, começou e fez vários movimentos em caminho da famosa autocrítica. Abriu-se cada vez mais aos ditames do mercado, adotou um modelo de desenvolvimento gradual e conservador, que André Singer chamou de pacto conservador, cedeu espaços políticos, aproximou-se desta grande mídia, não pautou as leis de comunicação no país, topou o agronegócio. Tudo isso sob a justificativa de que estava no poder e teria que dialogar com o poder. Pois bem.
Vale ressaltar que tudo isso que o PT fazia não agradava a grande mídia e o empresariado conservador nacional. Eles queriam mais. Queria a fatia que sobrava na reforma gradual. Queria na verdade era o fim do ENEM, SISU, Minha Casa Minha Vida, demarcação de terras indígenas e quilombolas, fim das cotas, aumento do desemprego e por aí se vai. Parte do PT não percebeu. No momento que a autocritica deveria ser feita no sentido de aproximar ainda mais de um modelo de Estado de Bem-Estar social acabou por fazer cessão para agradar o jamais agradado. Tipo a fábula do lobo de Jean La Fontaine. A direita brasileira não topa acordo com a possibilidade de reposição social e, a racial não quer nem ouvir falar. Mas, o PT tentou. Nem culpo a tentativa. Mas, foi, por vezes, atabalhoada de desnutrida de leitura crítica da sociedade.
O Brasil possui uma classe conservadora que ainda não saiu do engenho e das casas grandes. Uma elite que ainda ver o negro como escravizado ou destinado a ser. Uma população da alta sociedade que somente não defendia as castas por não ter uma voz na política que se destinasse com coragem a fazer isso. Agora eles têm. E elegeu este senhor para ser o seu porta-voz na presidência. A nossa elite não é melhor do que este senhor que foi eleito presidente da república. Eles são iguais em pensamento e vontade de país.
O debate hoje sobre romper a bolha e se ajuntar com outras vertentes de pensamentos de desenvolvimento deve ocorrer sim. Mas, ocorrer sabendo-se o que se está fazendo, com quem e por que. Não pode ser uma junção pela junção e uma vitória pela vitória. Precisa de ser a partir da reflexão com uma segura teoria e caminhos traçados. O que chamamos de tática eleitoral e estratégia partidária precisa de aprofundar num modelo de desenvolvimento de país. Não pode ser meramente um programa eleitoral. Porque não são as conjunturas que vão decidir as necessidades deste país. Nosso problema é estrutural. E, estrutural também deve ser a saída e ações.
A autocritica deve ser em aprimorar o partido para debater o seu lugar geográfico de fala e orientação política e permitir que o sudeste não seja o lugar que comande toda a estrutura burocrática partidária. Precisa de ser no sentido de entender que não se pode fazer qualquer debate e não se perceber entre os debatedores as figuras de pessoas negras. Precisa de compreender que cotas para mulheres tem de se figurar entre os eleitos e não entre os candidatos e assim, deslocar-se o indicador desta importante ação. Precisa de ter coragem e permitir que a juventude possa se figurar, com uma concepção aguçada de juventude que supere a ideia de moratória social e, e aponte uma transição de poder interno no partido. Ter a coragem de lançar candidaturas dos rurais e atuar para o seu êxito. Determinar o número de LGBTQIA+ que será eleito em todo o país. Todas estas ações junto as demais que com certeza precisa de ser efetivada. Esta deve ser a autocritica.
Se tiverem dúvidas sobre o que falo, vejam a fabula de Lá Fontaine. Mas, caso topem seguir nesta linha divergente assumam que há disposição para esta autocritica enviesada de direitismo. A elite não topa um modelo de inclusão. Por isso não topam o PT. A autocritica é pela esquerda. Sempre!  Sigamos!

Jocivaldo dos Anjos
25/05/2020

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