E o que é a escola?
A escola são paredes com grandes ouvidos pelos poros que dividem os cimentos dos blocos. Nela, as portas e janelas são as bocas por onde se orienta a sociedade. Nela se forma o pensamento de uma geração e reverbera para as demais. Traz o aprendizado do passado para o processamento no presente e deixar o sumo para o futuro. O sumo; não o insumo. Pelas frestas é que sai (ou não) a festa.
Considerar a escola somente como o lugar de transmissão de conhecimento é um crime contra a escola. É um desrespeito a professores, alunos, diretores... é desconsiderar o papel social da escola. É minimizá-la à formação de gente para servir gentes maiores. Como nas sociedades marcadas pela hierarquia e assimetrias que se retroalimentam. Servir a gente que somente usa a escola como o lugar de formação de mão de obra para lhe servir. A escola não pode ser mediocrizada.
Na pandemia (e em qualquer outro momento) pensar em retorno às aulas somente por conta de garantir a transferência de informação de professores para estudantes é pensar a escola onde não cabe gente. Perguntemos aos estudantes, porteiros, merendeiras, professores, diretores... sobre a vida neste este espaço físico e veremos a pluralidade holística que é este espaço. A escola é mais do que a escala.
A escola é o centro de referência das meninas que sofrem abusos sexuais. No Brasil é 4 por hora. Destas três são negras. São professores e colegas os primeiros a escutar o desabafo deste engasgo brasileiro. Professor é um pouco de tudo numa especialidade. Não se pode ser um bom professor sem ser um bom generalista. Professor não é o bom por ser ô bambambam em uma dada disciplina. Ele, em grandeza, faz a disciplina ser boa; palatável; amável. O que encanta é o canto. A forma com que o canto sai.
A escola é o local onde o pai e a mãe mais empobrecidos projetam a alimentação dos filhos e os cuidados (em tempo integral ou parcial) daqueles que podem (e são) multiprofissionais na ação docente. Este papo de que professor não é pai para cuidar das crianças é mediocridade ou coisa de quem jamais foi professor, no máximo deu aula.
A escola é o local daquela paixão que os adolescentes frequentam as aulas e melhoram aprendizados e notas somente para impressionar a pessoa amada. A escola é onde os talentos são percebidos (muitas vezes assassinados também) e projetados. A escola ensina o cuidado com a vida.
Abrir este espaço não é disseminar a doença, o COVID-19, tão somente, como afirmam alguns neste momento. Pode ser também, se não tiver cuidado. Mas, isso pode ocorrer em todo canto. Aliás, sem orientação ou com pouca, tem ocorrido sim. Mas, é, acima de tudo na escola pode e deve se construir possibilidades conjuntamente de contenção da doença e da superação coletiva dos seus efeitos. É poder saber e dialogar com estes impactos de perto. A escola pode e deve ajudar a diminuir a taxa de contágio. Não o contrário.
Não se pode abrir sem condições de segurança sanitária. Jamais. Mas, é preciso ter coragem de enfrentar problemas estruturais numa sociedade marcada pela assimetria. A COVID-19 é um dado conjuntural de uma estrutura assustadora. Vejamos que tem morrido de COVID-19 é quem morre diariamente e não veremos uma distância tão grande nos aspectos destas pessoas.
É abrir toda a escola. Mas, não para todos ainda. É escalonar. Garantir condições de transporte seguro. De aulas seguras. De cuidados acima dos conteúdos. De ensinamentos e diálogos que passem segurança. Mesmo sofrendo também, as pessoas que compõem a escola não pode apresentar o medo como solução. O medo atrofia, desagrada, desestimula, mata. O medo é o pior dos sentimentos. A escola tem de apresentar a esperança. A esperança é filha da coragem. Os
Desencorajados são, por consequência, desesperançoso. Não posso ser professor e apresentar a desesperança para quem de mim depende para sonhar mais. Pois, o sonho engrandece as pessoas. E pessoas grandes engrandece tudo a sua volta.
Se a dimensão da escola que tenho é somente de transferência de conteúdo somente defendo a abertura com a vacina. Com todas a “proteções” para parcela dos que a frequenta. Mas, nem a vacina cura a estreiteza deste pensamento miúdo sobre a escola. Mas, se a escola é um espaço maior do que os conteúdos... precisamos de dialogar com ela e com a sociedade do tamanho que ela é. Não pode ser um debate maniqueísta e mesquinho a educação. Num momento deste deveria todo o país ter este tema como o central para a recuperação de gentes distante e depois deste momento pandêmico.
Jamais expor estudantes, professores, servidores e todos os envolvidos na educação a ficar expostos à doença. Jamais. Mas, contribuir para a proteção destes, cuidados e profilaxia com os demais também. A escola alargada do tamanho que sempre deveria ter. A escola que cura as feridas que a vida abre diariamente em algumas peles. Sabemos da sua peles com feridas Naiane abertas. Precisamos de coragem para cuidar melhor destas feridas. Sigamos!
Jocivaldo dos Anjos
25/08/2020
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