Eu nunca fumei maconha

Eu nunca fumei maconha Moralista! Dirão os intelectuais de capa de livros ou de orelhas. No máximo. Orelhas sem ouvidos. Mas, de fato, eu nunca fumei maconha. Aliás, jamais usei droga ilícita alguma. E não me sinto maior, melhor, menor ou pior do que qualquer pessoa por conta disso. Me sinto uma pessoa que as condições de reflexões foram permitidas a escolher. Eu escolhi não usar. Não foi a toa que não usei. Não usei por uma decisão política. Direi. Antes de entrar para a universidade jamais me ofereceram maconha ou qualquer outra droga ilícita. O álcool já era demais. Até pessoas que conhecia e tinha relações afetivas me poupou da oferta. Na universidade não. A meu ver existe uma interpretação errônea entre liberdade, uso dos corpos e drogas. Este entendimento equivocado têm contribuído, inclusive, para a morte de muita gente jovem preta. Mas, este é assunto para outra quadra. Por hora a conversa é sobre mim a a negativa das drogas ilícitas. Bora ver. Eu jamais usei drogas ilícitas nem a maconha, sequer, por alguns motivos. Eu fui o primeiro de minha família a fazer universidade. Minha mãe, para bancar minha passagem de Antônio Cardoso até Feira de Santana deixa de comprar até remédio para ela. Usava a tolha lavável em vez do moddes, (absorvente); se privava de tudo e mais um pouco para me permitir estudar. Eu achava um absurdo comprar maconha com o dinheiro que ela me dava. Aliás, cheguei a passar fome na UEFS por diversas vezes. O dinheiro não dava pra tudo. Imagine se eu fumasse... a larica era maior. Rsrs Além deste fator ainda tinha o fator de eu ser referência famílias e também na comunidade. Na roça, ser maconheiro é um xingamento, ainda hoje. Podem até me dizer: “mas, você deveria quebrar os padrões”. Eu pergunto - quebrar por que e para quem? A favor de quem? Não se trata de um debate conservador ou moralista. É da vida real. Esta falsa ideia de que universidade e maconha são irmãs siamesas não me parece uma absoluta verdade. Para além disso, não me parece honesto, sendo do gueto, querer debater uso recreativo da maconha. Para os meus nunca foi recreativo. Sempre foi motivo de disputas e mortes. A viagem é legal. Sim. Me dizem alguns. Para muitos dos meus às vezes a viagem não tem volta. Não me cabe interpretar a sociedade sem ser pelos olhos que não sejam pretos e subalternizados. Porque toda interpretação beneficia alguém. É preciso coragem para expor questões que a “universidade” teima em secundarizar. Os empobrecidos quando a acessa não pode esquecer que é empobrecido e saber que quando sai dos muros ele re-veste sua identidade. Os pretos que entram para a universidade e quer bancar-se o “sabidoro” da academia vai pagar o preço. Achar que pode fazer o que não eleva nem a si e nem aos seus por um “protocolo universitário “ está jogando no time contrário. Eu sou totalmente antiproibicionista. Para mim não somente a maconha, mas, todas as drogas devem ser discriminalizadas. A criminalização das Drogasil se trata de criminalizar corpos negros por consequência. Aprendi a ter lado na vida. Tenho. Continuarei tendo o meu lado. O lado do meu povo. O lado que me precede a universidade. O lado que Kant chama de imperativo categórico e eu chamo de consideração aos meus mais velhos. Isso me é caro. Porque eu sei que sou porque eles se abdicaram de ser. E sei também o quanto cada família preta passa para manter um corpo preto desprovido na academia. Sigo para ser eu e eles serem parte de mim. Sempre. Sigamos! Jocivaldo dos Anjos 06/ 12/2020

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