O mito da linguagem juvenil
O MITO DA LINGUAGEM JUVENIL
Escuta-se diariamente, ao se tratar de diálogos com a juventude, uma busca frenética em busca da chamada “linguagem juvenil”. As produções de materiais educativos, dialógicos, técnicos e demais sempre apresentam esta preocupação. Mas, uma pergunta deve ser feita: O que significa a linguagem juvenil? Cada faixa etária tem uma linguagem específica para entendimento, contemplação e convencimento?
Não tenho a resposta para o que se passa em cada cabeça quando se fala e se trata desta busca, mas uma coisa não pode fugir de mim e nem de ninguém que atua tanto com linguagem quanto com a juventude. Primeira questão é: A juventude não é um estrato homogêneo que somente possui uma linguagem e, a partir dela, se consegue dialogar com todos os tipos de conteúdos e de conhecimentos acumulados pela humanidade. Outra questão é o que se espera da juventude quando somente pretende-se destinar para eles apenas um único tipo de linguagem. O que necessariamente não significa ser a linguagem dele, mas, a linguagem que algumas pessoas, adultos em especial, dizem ser deles. Pois, se eles se socializam num mundo de hierarquia geracional estrutura adultocêntrica eles e elas são socializados e socializadas por este viés também. O terceiro ponto é o que se negligencia quando se usa a chamada “linguagem juvenil” para a juventude? Será que se negligencia a linguagem utilizada pelos espaços de poder? Será que se usa a linguagem marcada e plasmada pelos espaços subalternos no sentido de disputa social do poder pelo principio da idade. Não tenho respostas. Somente dúvidas. Mas, tenho problematizações. E, diante das problematizações e ensimesmo-me e prefiro não acompanhar leituras de planificação rasas.
Negar para a juventude linguagem em sentindo amplo e complexo, como é toda a linguagem, e com todas as diversidades, que contribuirá para a sua formação e, com isso, a possibilidade mais robusta de disputa da sociedade não se trata somente de utilizar a chamada linguagem juvenil. Se trata de tirar da juventude a possibilidade de disputar os espaços que para alguns, e de forma bem sabida, os espaços de importância e respeito social. Se, conforme LABOV, a língua vale na sociedade o que vale o seu falante, o que vale na sociedade brasileira as falas juvenis. E quando se estereotipa de forma a ficar jocosa e teatral a busca se trata de uma inclusão ou de uma exclusão destinada. É possível falar de Bach, Patativa, Racionais, Beatles com a juventude? E Jane Austen, Carla Akotirene, Marx, Lélia Gonzales e bell hooks também cabe? Ou na linguagem juvenil somente cabem os tik tok e as mensagens curtas organizadas para assim serem e ter uma capacidade menor de conteúdos e formação social libertadora?
Tudo o que cito eu acho que cabe? Pois, jovens são pessoas que tem capacidades de aprendizados como outras categorias de maior idade de compreensão a partir das suas vivencias. Equivoca-se ou faz de forma pensada este alijamento da juventude em ideias supérfluas. A herança do just do it impera quando se trata da juventude em varias mentes. Mas, não creio que seja isso um ponto fora da curva em se tratando de políticas destinadas para a juventude. Se trata, a meu ver e a partir de diversas leituras e da própria constituição de políticas públicas no país. A ideia de jovem como futuro que ainda tem de aprender a lhe dar com leituras mais complexas. A questão é: quem define o que é complexo e qual o papel dos educadores se não é descomplicar a complexidade de alguns conteúdos. Aliás, todo conteúdo e toda cultura são complexos. O que necessitamos é de quem consegue facilitar o complexo e não complexificar o que é fácil. O mito da linguagem juvenil é uma mentira bem contada. Todas as linguagens cabem em todas as juventudes. A questão é que muitos jovens enriquecidos tem contato com linguagens mais complexificadas desde jovens para aprenderem a dominar a partir do seu extrato social. O que já denota que a ideia de linguagem “fácil “ não é etária, mas, social.
Jocivaldo dos Anjos
21/04/2021
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