O racismo não se manifesta. É manifestado.

 


O racismo não se manifesta. É manifestado 


O mundo não é sem nós. Nos o fazemos e nomeamos nossas ações a partir dos nossos feitos. Pois, é. Fazemos coisas boas a plausíveis e também ações desprezíveis. Dentre estas está o racismo. É ponto comum a aceitação da existência do racismo no Brasil. Aliás, era. Pois, o vice-presidente da república, General Hamilton Mourão afirmou que no Brasil não há racismo. Assim sendo, abriu a possibilidade para os racistas à brasileira achar que somente é racismo se ocorrer na forma de apartheíd como nos Estados Unidos e na África do Sul. Desta forma, naturaliza o que ocorre no Brasil. Na Bahia o ACM chamava de bainaidade e no Brasil deve ter a equivalência semântica de... brasilidade. Aí estamos entre o ruim é o péssimo. Um que pratica o racismo e acha que faz parte da cultura e por isso não precisa de mudar e outro que acha que o racismo somente existe em sua forma mais explícita. Pois, para estes a assimetria que coloca gente preta em condições de maiores subalternidades não são consideradas atos racistas. Mas, eles não são dicotômicos. Se encontram no lugar de achar que preto já tem demais; que o racismo vem do próprio negro; que é mimimi; que o preto ao denunciar está querendo se aparecer e por aí se vai. Depois de aberta a possibilidade por integrantes do Estado brasileiro em ser de forma explícita facilitou ainda mais. Integrantes do governo Bolsonaro faz gestos racistas e o governo passa pano diz: “isso pega mal”. Somente isso e pronto. Pega mal em público. 

As justificativas de que alguns não são racistas são variadas. Entre a maior está a clássica: “tenho amigos negros”. Ou as que seguem esta mesma narrativa. Como se influenciasse algo isso e como se pessoas pretas também não reproduzisse o racismo. Como se a existência do racismo dependesse da existência de pessoas e não de ações. Isso não somente despolitiza o debate, mas, também despessoaliza o racismo. Como se somente houvesse se não tivesse a interação. Já ouvi também algo do tipo “racismo é assim. Se deixar de falar ele deixa de existir”. 

Aquela história do nós por nós não é mentira. Também não é verdade de todo. Temos alguns e algumas que colam conosco também. Mas, também entre nós tem os que colam do outro lado. Do lado de lá. 

Nossas escolhas em todos os aspectos é formada a partir da nossa formação e das nossas crenças. Refleti-las diariamente é o primeiro passo para entendermos se estamos sendo ou não.

Deixar de se ancorar no racismo para justificar nosso lugar de fala é um ato de coragem. Coragem de quem aceita refazer a história. História com falas e ações. Uma não é filha da outra. São irmãs siamesas. 


Jocivaldo dos Anjos

06/04/2021

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