A educação pela coragem

O patrono da Educaçao brasileira, Paulo Freire, nos fala sobre a necessidade da coragem ao fomentar e propor ações no campo educacional. Ele nos orienta que a educação não é um campo neutro e que não tomar um lado já é a tomada de um lado. O lado de quem vencerá. Via de regra, os gestores educacionais não tomam lado. Assim sendo, tomam sempre o lado dos mais fortes na educação. Num país marcado pelas assimetrias sociais como o nosso e pela hierarquização nas relações a isenção parecida nas tomada de lado real é marcado, recorrentemente, por posições em que os do andar de baixo sustentaram todo o sistema superior e foi o mais atingido pelas decisões tomadas no andar de cima. Algo parecido com o sistema francês e as relações entre o primeiro, segundo e terceiro Estado. A superação urge. E se homens e mulheres construíram assim. Homens e mulheres também podem reconstruir e fazer de outra forma. Os moradores do andar de baixo durante muito tempo foram chamados de serem sem luz. A portaria 23/2022 de 07 de janeiro de 2022 da Secretaria da Educação do Estado da Bahia traz elementos de inserção dos moradores do andar debaixo na arena da disputa política na educação. Todos os espaços são políticos. Ou são políticos ou não são espaços. E os espaços em que residem os estudantes, suas famílias, comunidades e culturas pesoais e coletivas também o são. Como diria Almicar Cabral são culturais e da cultura. A portaria referida trata acerca do ano letivo de 2022. Nela consta elementos que devem orientar em especial a avaliação promovida e perpetuada na rede pública a estadual. Ela propõe um deslocamento no sentido da avaliação para se aproximar do que os teóricos libertadores da educação sempre propuseram. No entanto, a propositura teórica nas universidades e palestras para ganhar corpo e realidade precisa de se ter gestores comprometidos e corajosos para fazer. Corajosos. Portadores da coragem de entre o medo e a ousadia escolher a ousadia. A ousadia freiriana. Ousadia que deve se manifestar através da legislação e do financiamento. Além de outros elementos indispensáveis. A portaria centra como proposta para a rede o foco na aprendizagem estudantil e no respeito as proposituras da Lei de Diretrizes e Bases da Educação- LDB. Lei 9394/96. Orientando desta maneira que o aprendizado que faz sentido deve ser um balizador e norteador do que fazer pedagógico. Aponta ainda para a superação da cultura da reprovação, em que se avalia não é necessariamente o conteúdo aprendido pelo estudante, mas, o ensinado pelo professor. Deslocar esta condição avaliativa diz muito acerca de para onde deve apontar o ensinado e o apreendido e quem tem responsabilidade sobre o que. Algo como a direção defensiva que aprendemos nas autoescolas em que os maiores devem cuidar da segurança e da proteção dos menores. Traz ainda algo de grande valia que é o acompanhamento direcionado para cada situação específica de cada estudante e não de uma avaliação centrada no pacotão em que todos estão ou devem estar no mesmo patamar. O fato de cada série propor a absorção e a apreensão de determinados conteúdos não significa que todos estarão nas mesmas condições de aprendizagens dos mesmos e vão adquirir de forma síncrona os mesmos. A isso a literatura chama de condição social e situação social. (No campo da juventude a Helena Abramo tem estudo importantes sobre o assunto). Situacionalmente estão nas mesmas séries, mas, as condições de cada um são distintas. E assim as escolas devem percebê-los. Percebê-las e resolvê-las. Ressaltaria ainda a prevalência dos aspectos qualitativos sobre o quantitativo. Algo que em todas as aulas de pedagogia, didática, currículo ou qualquer ação ligada à educação já defende, mas, que a forma avaliativa que adotamos já vem orientada em quantificar cada conteúdo somente. E partes escolhidas dentre estes conteúdos que ganham status de serem avaliados. Geralmente são as partes em que a maioria tem mais dificuldade de aprendizado. Não as mais necessárias para a formação e vida estudantil necessariamente. A utilização de projetos estratégicos como ferramenta de aprendizagem e curricular e seu uso para aprimorar este aprendizado e contribuir com a avaliação é outro fator importante que a portaria traz no sentido de no percurso das observações de cada estudante já se propor soluções possíveis para cada caso. De fato, o que me alegra, e creio também que deva alegrar os que entendem que a educação ou contribui para a reposição de classes ou acelera a assimetria, é o fato da propositura de uma cultura educacional observando o estudante como um ser múltiplo complexo e com diversos potenciais. O estudante como centro. Como o foco estratégico da existência das unidades escolares. Nestes sujeitos devem estarem centrados todo os esforços e recursos (em sua maioria advindo dos impostos da classe trabalhadora) para que que o sentido da escola seja o de aflorar e possibilitar sonhos e coragem e a superação do medo seja um componente curricular indissociável à prática da educação libertadora. Jocivaldo dos Anjos 07/01/2022

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