Paulo Freire diria TodEs?
Freire diria TodEs? É possível que sim. Mas, não somente diria
Nos fins de 1970 já na Pedagogia da Esperança o escritor brasileiro mais lido no mundo deixou de utilizar o substantivo homem como um gênero neutro e incorporou falar mulheres e homens ou a seres humanos. Mas, além das palavras, Freire foi um defensor das ações. Das ações reflexivas. Freire cobrava a prática coerente com a proclamação verbal. Cobrava o rigor entre o que se fala e o que se faz. Logo, Freire poderia usar todEs possivelmente, mas, diria que não se trata somente de uma palavra, mas, de uma disputa política a partir da alteração da gramática normativa. Diria que a gramática é um feitura política de homens brancos, ricos e que necessita de adequação para caber mais pessoas. Mas, não ficaria nisso somente ainda.
Cobraria dos que falam a coerência entre o todEs falado e as ações concretas para a inserção de todos os gêneros em todos as ações. Diria que somente saudar no início todas, todos e todEs e nem nas demais falas se lembrar da introdução do E como elemento que insere e respeita os demais gêneros se trata de tratar um tema necessário como uma abstração que não serve a uma práxis comprometida com as pessoas de gêneros que a gramática e a política negam. Diria que usar uma palavra de tamanha necessidade política (ainda para quem discorda) apenas por modismo, sem compreender, sem se fazer compreendido é não cuidar para que a materialização da palavra ocorresse na política se trataria de um desrespeito as lutas históricas e imediatas com impactos reposicionadores. Necessária, portanto para os comprometidos com os esfarrapados do mundo. Alguém diria-lhe: comprometidEs e esfarrapadEs. Não seria fácil também para ele. Que, educadamente diria mais uma vez para o cuidado com a práxis e não somente com as palavras. Cobraria ainda uma posição dos que não aceitariam a entrada da palavra por preconceito ou por não soar bem aos ouvidos. Para estes ele parafrasearia Conceição Evaristo e diria que suas palavras não são para acalentar ouvidos preconceituosos e, conservadores. Mas, para tirar-lhes os sonos. Acho que ele faria isso.
Por achar, sigo os ensinamentos do grande referencial de vida que deixou de legado na terra sonhos de gentes espalhados por todos os cantos. Um sonho que cabem todEs. Para além dos discursos. Ou resistência e pela falta dele também.
Jocivaldo dos Anjos
19/01/2022
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