Idosos e crianças são semideuses

Idosos e crianças são semideuses Semi é uma especie de quase. Nesta acepção acima, um quase Deus. E, relacionando idosos e crianças, o quase é um todo. Explico. Um viu quase nada da vida. Por isso não sabe das dores e dos amores reservados. Não sente medo, angústia, decepções. Somente têm sonhos. As vezes. Acha que o perdão é uma constante e todas as pessoas são boas. Todas as pessoas. Não sente medo e nem sente raiva. Expressa seus dessabores pelas lágrimas. E ao expeli-las com elas também se vão os mais sentimentos. Tenho desconfiança da existência do amor em pessoas que não se alegra ao ver crianças. Por seu turno, aqueles e aquelas que já viram quase tudo, que já estão no terceiro turno da vida, por ter visto quase tudo, compreendem que é precisa calma. É preciso escuta. É preciso cuidado. Parcimônia. Entendem já que o poder bom é aquele que eleva a alma. Entendem que os segredos são importantes nas relações, porque eles geram confianças. (Não é à toa que os avós dão dinheiro escondido para os netos). Os que já viram quase tudo sabem quem “a palavra arrasta e o exemplo educa”. Eles educam sempre pelo exemplo. Eles não falam muito, não falam tudo. Observam, observam e observam. Amam ao observar. Ensina a amar pelos gestos. Pelo mesmo motivo de desconfiança dos que não se sentem tocados pelas crianças também desconfio dos que não se alegram com os idosos. Não são pessoas comuns. São entidades que bailam a cada passo lento e a cada olhar atento. Tanto um quanto outro pedem cuidados a mais. Não pena. Cuidados. Observem as relações entre um idoso e uma criança. Brigam, discutem, discordam… agora, tentem afastá-los. Eles se completam desta infinitude de aprendizados mútuos. Idosos e crianças servem para serem observados. Para serem ensinantes num mundo em que o adultismo precisa de não se sentir o completo. Num mundo de complementariedades mal explicadas. A soma destas duas idades divididas não dá um adulto. Porque o amor não é uma questão etária tão somente. Mas, sim, a ideia do quase. Do semi. Dos que precisam de gente de verdade para de verdade serem gentes. Que os signos reservados e habitantes nestes amores ambulantes contagiem as gentes a serem mais gentes. Sigamos! Jocivaldo dos Anjos 18/03/2021

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Conheço o chão da escola

Tatiana Veloso: a grandeza da simplicidade