Andar com mulheres

Andar com mulheres A gente só entende o outro na nossa contradição. A contradição é nossa. Não é do outro. É o outro que completa as nossas incompletudes. Neste caso, a outra. Ou as outras. Eu decidi dialogar e enfrentar as contradições. Dentre as minhas maiores contradições, que é o de todos as pessoas, forjadas neste solo brasileiro, está o machismo. Estão também de forma interseccionada o racismo, a pobreza, a idade e tantas outras. Devemos cuidar de todas mas, começar pela nossa maior carência. Pelo que a gente expõe mais latente nas relações pessoais. Em meu caso, mirar no espelho para entender o machismo entre as interseções todas. E, ao entender (de teoria e práticas) percebi o quanto é importante o aporte teórico e as convivências diárias. O empirismo. bell hooks me ensinou que o feminismo é para todo mundo, pelos livros. Minhas amigas me ensinaram que a vivência de ser mulher é mais difícil do que nos livros. Aprendi com outras tantas mulheres que o debate teórico de pouco vale sem a prática. (A maioria das mulheres que são mais feministas nem sabem sobre o termo em si). Aprendi também que para algumas o feminismo se tornou uma “carteirada”. Achando que é somente ser mulher e dizer que é feminista que já é. Não é. Sofre a opressão de sexo sim, mas, está bem longe deste sofrimento ser considerado feminismo. Aprendi também que as teorias colonizadoras da branquitude permeiam de forma tão violenta e vil o pensamento feminista, e demais também, no Brasil, que a defesa do feminismo, por parte de várias mulheres, negras inclusive, defendem junto com o direito (inegociável) dos direitos das mulheres serem maculados com a defesa da branquitude e dos direitos das mulheres ricas via de regra. Percebi que é preciso muita formação. Muita vivência. Muito entendimento do que se é ser mulher e suas intersecções neste país. E percebi que é necessário enfrentar alguns debates contra algumas em alguns momentos. Necessários. Aprendi que o debate do feminismo tomou, e ainda não saiu, somente as mulheres como responsáveis. Que os homens, mesmo os mais progressistas, entendem pouco e confundem necessidades com virtudes. Esta coisa de chamar as mulheres de guerreiras todos os dias não bate certo não. Não é virtude para ninguém em tempo de paz ter de guerrear diariamente. É a necessidade que o machismo produz para a garantia da sobrevivência. E, lembremos-no, sobreviver não é viver, é sobreviver. É suportar. É aguentar. É resilir. Resilir é outra palavra bonita (bonita por ser desconhecida) que entrou para a gramática social brasileira como a madrastra vil da pobreza. Os conselhos dados aos condenados destas terras. E as condenadas escutam diariamente parabéns por isso. O feminismo precisa de superar a caixinha do sexo, a teoria da branquitude, a territorialidade acadêmica, o hiato social, a assimetria etária e poder morar nas pessoas deste país. Não é por necessidade somente das mulheres. É pelo bem viver de todo mundo. Aqui é um texto opinativo também. Mas, opinativo com base no que temos de produção científica acerca do tema. Logicamente que opinativo por uma matriz interpretativa, uma epistemologia que caminha junto com a libertação das pessoas. O que não liberta os subalternos não serve. Não deve servir e nem deve ser seguido. Assim sendo, andar com mulheres não é necessariamente andar encambitado, eu ando mais só do que com qualquer pessoa, mas, entender o que se traz em cada ação. O que nos move a cada ato. E saber acima de qualquer coisa contra quem é contra o que devemos estar. Para além das palavras bonitas. Não falo de palavras. Falo de gestos, de ações, de vivências e de responsabilidades. Cada um dá o que tem. Todos nós temos passos. Passos em sentido largo. Em sentido amplo. Passos que estão acima da existência das pernas. Podemos caminhar. Se sozinhas andam muito, acompanhadas andam melhor! Sigamos! Jocivaldo dos Anjos 12/03/2023

Comentários

  1. Posso dizer que é o texto feminista mais intenso e verdadeiro que já li na vida! Obrigada pela coragem de dizer.

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